É só chegar em uma maternidade para se deparar com dezenas de visitas ansiosas para cheirar os mais novos humanos. Não é só tradição, tipo nunca admitir que um bebê é feio: o cheiro de um recém-nascido existe e seu encanto já foi comprovado cientificamente.
Um estudo internacional, que envolveu pesquisadores da Suécia, dos EUA e da Alemanha, mostrou que mulheres, quando expostas ao cheiro de um bebê nascido a dois dias ou menos, têm uma reação cerebral similar a de usar drogas ou comer algo muito gostoso. O sistema de recompensa no cérebro se ativava com o cheiro até de recém-nascidos desconhecidos, independentemente da mulher ter filhos ou não.
Por que o cheiro gera uma reação tão forte?
O olfato é um dos sentidos mais ricos que possuímos: seu nariz tem até 25 milhões de receptores olfativos únicos, que se combinam para criar uma grande diversidade de cheiros. Mas essas informações podem passar batidas para você – não ficam tão claras quanto a visão e o tato. Por isso mesmo, elas são fortes gatilhos de memória. Um cheiro que você não sabe nem quando sentiu pode, de repente, transportar você a uma lembrança específica ou gerar fortes sensações.
De onde vem o cheiro do bebê?
Essa pergunta ainda está em aberto, mas existem hipóteses que a explicam. Uma delas é que esse cheiro é remanescente do vernix caseoso (ou verniz cremoso), uma substância esbranquiçada que cobre o corpo do bebê quando ele nasce. Geralmente é removido no primeiro banho, ainda que algumas mães e médicos optem por adiar esse momento, para dar proteção extra ao recém-nascido.
A outra opção é que o cheiro emane das glândulas sebáceas do bebê. Mesmo na vida adulta, nosso suor é repleto de mensagens que não decodificamos no dia a dia, como o nível de cortisol, indicador de estresse. Da mesma forma, o cheiro pode ser um sinal proposital “programado” para ser emitido por recém-nascidos.
Por que um perfume tão gostoso?
Aí chegamos à questão final. O cheiro, muito provavelmente, remete à evolução humana. Bebês, principalmente logo depois do nascimento, são coisinhas vulneráveis que só dormem, comem e fazem cocô. Objetivamente, eles não são tão legais assim. Mas essa é a questão: o vínculo emocional é essencial para a manutenção da espécie. É ele que faz com que o recém-nascido se torne a coisa mais especial do mundo, o centro do universo dos pais.
Se cheiros funcionam como gatilhos emocionais tão fortes, bebês com um cheiro que dispara o sistema de recompensa cerebral dos pais provavelmente tiveram mais sucesso no nosso passado evolutivo. E assim, esse traço foi passado para frente, de forma a selecionar a fragrância que mais agrada o olfato de pais humanos, atraindo mais atenção e cuidado.
Se sua avó ensinou que o jeito de atrair um parceiro é conquistá-lo pelo estômago, os bebês evolutivamente aprenderam a fazer diferente: conquistam o amor pelo nariz.