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Você odeia o barulho de gente comendo? Cientistas podem ter descoberto por quê.

De acordo com uma nova pesquisa, o problema pode estar ligado a um bug nas regiões do cérebro responsáveis pelo processamento de sons e dos movimentos da boca e da garganta. Entenda.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 25 jul 2022, 10h55 - Publicado em 27 Maio 2021, 18h00
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  • Para algumas pessoas, sentar-se à mesa para comer com familiares e colegas pode ser um grande desafio. Os sons de respiração, mastigação e deglutição parecem inofensivos, mas são capazes de tirar do sério aqueles que sofrem com a chamada misofonia – condição que causa uma reação negativa aos sons.

    A misofonia não é só uma palavra bonitinha para descrever quem se irrita com quem devora um pacote de salgadinhos de boca aberta. É coisa série, e as pessoas que vivem com o problema tendem a ficar extremamente irritadas ao ouvir qualquer barulhinho do dia a dia, tendo desde enjoos até comportamentos agressivos. 

    Não se sabe ao certo o que causa a misofonia, mas pesquisadores da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, podem estar próximos de desvendar esse mistério. Eles analisaram um total de 37 pessoas – 17 com misofonia e 20 sem o problema. Os voluntários eram levados a ouvir alguns sons “gatilhos”, como o de pessoas mastigando uma maçã ou comendo batatinhas. Enquanto isso acontecia, os pesquisadores capturavam imagens do cérebro das pessoas. Os resultados foram publicados no Journal of Neuroscience

    Antes de explicar a conclusão, é importante se atentar a dois fatos que também foram considerados pelos pesquisadores. As pessoas com misofonia são mais afetadas por sons feitos por pessoas se alimentando, uma ação que envolve movimentos orofaciais (relacionados à cabeça, face, boca e pescoço). Um vídeo sem som de alguém tomando um suco, por exemplo, pode ser suficiente para irritar quem tem a condição.

    Além disso, é comum que aqueles que vivem com a misofonia imitem os sons gatilhos espontaneamente como uma forma de enfrentar o problema. Uma tática de guerrilha, na linha do “é melhor eu mesmo fazer isso antes que alguém faça”. E é aí que pode estar a chave para entender o desconforto.

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    A raiz do problema

    De acordo com o estudo, as pessoas com misofonia possuem uma ligação mais forte entre a parte do cérebro que processa os sons e o córtex pré-motor, responsável pelos movimentos musculares da boca e garganta. Em resumo: os sons gatilhos estariam ativando a parte motora de pessoas que sofrem com essa condição.

    Mas de que forma isso ocorre? Os pesquisadores acreditam que os sons ativam o sistema de neurônios espelho do cérebro. Esses neurônios podem disparar em dois momentos: ao realizar uma ação ou ao ver outra pessoa realizando. Se você pensou no ato de bocejar ao ver alguém bocejando, acertou: eles são os responsáveis por esse mecanismo maria-vai-com-as-outras.

    Dessa forma, a misofonia não seria uma aversão aos sons, mas sim uma manifestação involuntária de atividade em partes do sistema motor envolvidas na produção desses barulhos. É como se o corpo estivesse pedindo por algo que você não estava contando. Tentar ir contra esse impulso, então, seria angustiante – enquanto reproduzir o som pode gerar algum conforto. 

    Entender isso pode ajudar os pesquisadores a desenvolverem terapias mais eficazes para a condição. O autor do estudo, Sukhbinder Kumar, explicou ao jornal britânico The Guardian que é possível treinar o sistema de neurônios espelho, quebrando a ligação entre o som irritante e os efeitos negativos que ele gera. Fica ainda o alerta de que, ao estudar tratamentos para a misofonia, é válido considerar também as regiões motoras, e não apenas o processamento de sons no cérebro.

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