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Conheça o primeiro dicionário bilíngue kaiowá-português

O livro conta com 6 mil verbetes e exemplos de uso relacionados à cultura kaiowá. Ele pode ajudar a manter a língua viva – e está disponível online. Confira

Por Luisa Costa
Atualizado em 30 nov 2022, 12h32 - Publicado em 29 nov 2022, 17h39
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  • Na língua kaiowá, akwaa significa “ter sabedoria” – ou, numa tradução mais literal, conhecer o tempo-espaço. Pode-se dizer, por exemplo, hi’akwaáva ore apytépy ha’e che jari ha che ramói: “quem tem sabedoria entre nós são minha avó (jari) e meu avô (ramói)”. São palavras como estas que aparecem no primeiro dicionário bilíngue kaiowá-português, que a editora Javali acaba de lançar.

    O livro tem 6 mil verbetes organizados alfabeticamente. Além de informações gramaticais, ele traz exemplos de uso relacionados ao cotidiano e à cultura kaiowá. Por exemplo: junto ao significado da palavra gwarañyvẽi, “vagalume”, conta-se que a gordura do inseto é um remédio para tratar males dos olhos e que antigamente coletava-se vagalumes com garrafas de vidro – que, assim, funcionavam como luminárias.

    O dicionário de 582 páginas ainda c​​onta com ilustrações do kaiowá Misael Concianza, e está disponível na íntegra para download neste link. Finalizado com o apoio do programa Rumos, do Itaú Cultural, o livro é fruto de um trabalho de duas décadas coordenado por Graciele Chamorro, cuja língua materna é o guarani. Ela é pesquisadora da Universidade Federal da Grande Dourados (Mato Grosso do Sul) e nasceu no Paraguai, mas mora no Brasil há 40 anos.

    Graciele construiu o livro com a ajuda de outros pesquisadores das áreas de linguística, história e antropologia que atuam em universidades públicas brasileiras – mas também contou com dezenas de colaboradores indígenas, apresentados nas páginas iniciais do dicionário. O projeto privilegia a fala de homens e mulheres kaiowá da região de Dourados e Ponta Porã (MS).

    São moradores de duas terras indígenas regularizadas – Panambi (também chamada de Lagoa Rica) e Panambizinho –, além de quatro acampamentos de retomada (áreas reivindicadas pelos kaiowá, em processo de identificação oficial ou não). Essa seria a região com os falantes mais conservadores da língua indígena, menos influenciada pelo guarani paraguaio, pelo espanhol ou pelo português.

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    A produção do dicionário envolveu dois grupos de indígenas: um que mantém a língua apenas via tradição oral, e outro que já faz uso da modalidade escrita. Ainda não há, entretanto, uma escrita convencionada para o kaiowá. Os pesquisadores explicam que quem escreve segue parâmetros estabelecidos por línguas irmãs – usa-se o alfabeto do guarani paraguaio, por exemplo.

    Manter a língua viva

    Os pesquisadores explicam que há uma crise linguística geracional nas comunidades indígenas: a maioria das crianças até fala a língua kaiowá, mas o uso está restrito ao contexto familiar. O português é a língua mais forte nas escolas, e pode, gradualmente, substituir o idioma indígena – que é considerado língua vulnerável pela Unesco.

    O dicionário pode, nesse contexto, ajudar a recuperar palavras que estão caindo em desuso. “As palavras são vivas e dependem muito do uso”, explicou Graciele no evento presencial de lançamento do livro, que aconteceu em Dourados (MS). O evento online aconteceu nesta terça, 29, e a gravação está disponível neste link.

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    “Será muito bom para todas as pessoas usarem o dicionário, tanto na escola como nas universidades, porque hoje em dia há muitas crianças que não conhecem sua língua verdadeira”, afirma a professora kaiowá Geisabel Veron, que também integra a equipe por trás do projeto.

    “As pessoas mais velhas vão pegar o dicionário nas mãos e mostrar para as crianças suas palavras escritas, palavras que elas ouviram de pessoas sábias do passado”, afirma Misael Concianza. Assim, o projeto não só colabora para o avanço dos estudos linguísticos da língua kaiowá, como também tem importância cultural para essas comunidades.

    O Brasil abriga uma das maiores diversidades linguísticas do planeta: 150 línguas indígenas ainda são faladas por aqui, e estima-se que havia pelo menos 750 quando os colonizadores portugueses chegaram. Saiba mais sobre elas nesta matéria da Super.

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