Regina Valkenborgh estava completando seu mestrado em Artes quando resolveu tirar uma foto usando uma latinha de cerveja. A ideia era transformar a lata em uma câmara escura: ela fez um pequeno furo no alumínio e colocou um papel fotográfico dentro do recipiente. Depois, posicionou a lata no lado de fora de um dos telescópios do Observatório da Universidade de Hertfordshire, no Reino Unido. Eventualmente, a aluna esqueceu do projeto, e a latinha só foi recuperada em setembro deste ano – revelando a foto com o maior tempo de exposição da história.
A lata foi colocada no Observatório em agosto de 2012, uma semana após o encerramento das Olimpíadas de Londres. Ela foi encontrada e removida por um dos técnicos do observatório, David Campbell.
O papel fotográfico mostra 2.953 arcos de luz, que estampam o nascer e pôr-do-sol de cada dia ao longo dos oito anos. As linhas do topo correspondem ao verão do hemisfério norte, quando os dias são mais longos. O oposto vale para as linhas de baixo – elas representam os dias de inverno, com menos horas de luz solar. O contorno do telescópio mais antigo da universidade pode ser visto à esquerda da foto.
Abaixo, a paisagem para onde a câmera apontava:
A alta exposição geralmente é usada como uma técnica artística para representar a passagem do tempo em fotos. A luz entra através de um orifício (que pode ser uma lente convencional ou um furo em uma lata) e uma imagem invertida aparece no fundo da câmara escura. Basta posicionar um papel sensível à luz para gravar a foto. Se a lente permanecer aberta por tempo o suficiente, o papel não irá registrar um único momento, mas todo o movimento da luz ao longo daquele período.
O fotógrafo Michael Wesely é famoso por fazer esse tipo de registro. Era ele, inclusive, que mantinha o recorde de fotos com o maior tempo de exposição. Wesley registrou a construção do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) através de lentes que permaneceram abertas por três anos. Acidentalmente, Valkenborgh mais do que dobrou o período recorde.
A então aluna de mestrado gostava de fazer fotos com câmeras improvisadas. Ela já havia posicionado outras câmeras feitas com latas pelo observatório. A maioria das fotos estragou por conta da umidade, ou o papel fotográfico acabou enrugando. “Foi muita sorte que essa lata tenha permanecido intocada por tanto tempo”, disse a fotógrafa em nota.
Já tem gente querendo bater o recorde novamente. Em 2015, o filósofo Jonathon Keats instalou uma câmera na cidade de Tempe, no Arizona, para registrar a evolução do milênio. A ideia é que a foto só seja revelada em 3015, após mil anos de exposição. Se vai dar certo ou não, não estaremos aqui para ver.