A livraria virtual Wordery fez um levantamento para saber quem escreveu o maior número de livros que costumam ser listados como os mais populares na história, homens ou mulheres. O resultado não surpreende: 80% deles são homens.
Usando dados do site de pesquisa Ranker, que questionou os usuários sobre os melhores livros da humanidade, o Wordery dividiu os títulos eleitos segundo o gênero dos escritores. Depois, eles verificaram se a lista de títulos (e autores) mais populares mudava quando levavam em conta só os votos de internautas mulheres, ou só os votos dos homens.
O vencedor do Pulitzer O Sol é para todos (To Kill a Mockingbird), da escritora americana Harper Lee, foi o livro favorito para o público geral. Lançado em 1960, a obra foi um sucesso imediato, tornando-se um dos maiores clássicos da literatura norte-americana. Ele deu origem a um filme homônimo, vencedor do Oscar de melhor roteiro adaptado em 1962.
Quando a lista é separada pelo gênero dos “eleitores”, as mulheres continuaram com Harper no topo, mas os homens elegeram 1984, de George Orwell, como o melhor da história. Na lista de público misto, o clássico ficou em terceiro lugar.
Observando o top10 final de cada gênero, as mulheres ainda estão bem mal representadas: apenas a obra de Harper aparece na lista masculina, e na feminina ela é acompanhada por Orgulho e Preconceito (1813), de Jane Austen. Confira as listas finais por gênero:
Mulheres
Ranking | Título da obra | Autor | Gênero |
1 | O Sol é para todos | Harper Lee | Feminino |
2 | Os Fantasmas de Scrooge | Charles Dickens | Masculino |
3 | Ratos e Homens | John Steinbeck | Masculino |
4 | Orgulho e Preconceito | Jane Austen | Feminino |
5 | O Senhor dos Anéis | J. R. R. Tolkien | Masculino |
6 | O Grande Gatsby | F. Scott Fitzgerald | Masculino |
7 | As aventuras de Tom Sawyer | Mark Twain | Masculino |
8 | As aventuras de Huckleberry Finn | Mark Twain | Masculino |
9 | 1984 | George Orwell | Masculino |
10 | O Hobbit | J. R. R. Tolkien | Masculino |
Homens
Ranking | Título da obra | Autor | Gênero |
1 | 1984 | George Orwell | Masculino |
2 | O Sol é para todos | Harper Lee | Feminino |
3 | O Senhor dos Anéis | J. R. R. Tolkien | Masculino |
4 | Ratos e Homens | John Steinbeck | Masculino |
5 | As aventuras de Huckleberry Finn | Mark Twain | Masculino |
6 |
A revolução dos bichos
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George Orwell | Masculino |
7 | O Hobbit | J. R. R. Tolkien | Masculino |
8 | O Senhor das moscas | William Golding | Masculino |
9 | As Vinhas da Ira | John Steinbeck | Masculino |
10 | As aventuras de Tom Sawyer | Mark Twain | Masculino |
Não dá para dizer que os livros das listas acima foram eleitos a partir de uma base lá muito igual de “competidores”. Afinal, não é à toa as mulheres têm menos livros dentre os maiores best-sellers do mundo – elas também tiveram bem menos obras publicadas na história.
Imagine que você joga futebol, e vai dar início a uma disputa de pênaltis. Só que o juiz te informa que o outro time tem direito a 20 bolas, e você, só a 6. Se ambos os times acertarem 50% das cobranças, o talento dos jogadores de vocês é, supostamente, equivalente. Mas as pontuações finais vão ser totalmente diferentes.
Multiplique o número de bolas por todos os anos que os homens tiveram mais condições (inclua aqui: direito, dinheiro, abertura) para publicar livros do que as mulheres, e o que você terá é a disputa de pênaltis mais injusta do mundo. Mesmo Jane Austen e Mary Shelley, escritoras do século XIX, são exceções que confirmam a regra – para não falar das muitas autoras que escondiam seu gênero sob pseudônimos.
Um estudo do ano passado descobriu que autores e personagens femininos na literatura declinaram da Era Vitoriana até meados do século XX. Esses números, porém, são fruto de sua época, de todo um histórico que, pouco a pouco, tem mudado. Já vivemos uma realidade, em boa parte do mundo, na qual dá para dizer que o jogo de futebol está ficando mais racional. Mesmo assim, uma pesquisa de 2018 descobriu que as três principais editoras norte-americanas dedicaram menos de 40% de suas publicações às obras escritas por mulheres no ano anterior. E depois se perguntam porque as batedoras de pênalti vivem reclamando do juiz.