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Livro da Semana: “Contágio”, de David Quamenn

O aspecto mais assustador da pandemia de covid-19 é que ela era previsível: seguiu passo a passo a receita de desastres anteriores. Este livro reconta a história de pandemias passadas – e explica como ignoramos o perigo das que ainda estão por vir.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 18 dez 2020, 19h12 - Publicado em 18 dez 2020, 19h11
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  • “Contágio” | Clique aqui para comprar

    Essa é a frase mais repetida da história da Super: “Há cerca de 12 mil anos, o Homo sapiens passou a praticar a agricultura e a pecuária”. Mas vamos repeti-la, pois é essencial para esta história também. A produção de alimento em larga escala permitiu a formação de grandes grupamentos sedentários – os primeiros vilarejos densamente povoados. E isso, por sua vez, permitiu a evolução de vírus extraletais: com uma ampla oferta de humanos, dá para matar o seu e pular direto para o próximo.⠀


    Outro problema é a disseminação de zoonoses: doenças que originalmente atacavam animais, mas depois sofreram mutações que as permitem infectar o sapiens. De 1.415 patógenos conhecidos, 61% têm origem em outras espécies. Tais micróbios deixam 2,5 bilhões de pessoas doentes e matam 2,7 milhões todos os anos. Estima-se que uma nova doença animal capaz de infectar pessoas é descoberta a cada quatro meses. ⠀

    Faz mais de 3 bilhões de anos que a vida na Terra é essencialmente microscópica – e apenas 300 mil anos que estamos por aqui. Os vírus habitam este planeta há 10 mil vezes mais tempo que nós. Somos descendentes de mamíferos que já eram infectados por vírus, que por sua vez descendem de répteis que já eram infectados por vírus, que em última instância descendem de bactérias que, até hoje, são massacradas por vírus.⠀

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    Ou seja: o aspecto mais assustador da pandemia de covid-19 é que ela era previsível: seguiu passo a passo a receita de desastres anteriores. O último parágrafo de um artigo escrito por epidemiologistas da Universidade de Hong Kong em 2007, 13 anos atrás, já dizia que “a presença de grandes reservatórios de coronavírus em morcegos, junto da cultura de consumo de animais exóticos no sul da China, é uma bomba-relógio.” 

    Todo filme de apocalipse dirigido pelo Michael Bay tem um personagem clichê: o cara inteligente que avisa todo mundo do perigo – meteoro, tsunami, mudança climática – mas é ignorado. Na vida real, esse personagem foi o jornalista David Quamenn, que em 2012 publicou “Contágio”: um livro que ao mesmo tempo mergulha na história das infecções e faz um alerta embasado pelos depoimentos e investigações de centenas de profissionais da microbiologia.⠀

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    Em um novo prefácio, escrito em 2020 especialmente para a reimpressão do livro, Quamenn escreve: “A lista desses vírus que aparecem em seres humanos soa como uma batida de tambor fúnebre: vírus Machupo, Bolívia, 1961; vírus Marburg, Alemanha, 1967; vírus Ebola, Zaire e Sudão, 1976; HIV , identificado em Nova York e na Califórnia, 1981; uma forma de hantavírus (agora conhecida como Sin Nombre), sudoeste dos Estados Unidos, 1993; vírus Hendra, Austrália, 1994; gripe aviária, Hong Kong, 1997; vírus Nipah, Malásia, 1998; vírus do Nilo Ocidental, Nova York, 1999; SARS , China, 2002-3; MERS , Arábia Saudita, 2012; Ebola novamente, África Ocidental, 2014. E isso é apenas uma seleção. Agora temos o Sars-CoV-2, a mais recente batida do tambor.”⠀

    E aí? Vamos deixar o tambor bater de novo? ⠀

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