Em 1988, a sede da Prefeitura de São Paulo ficava no Parque Ibirapuera, na zona sul da cidade. E o então prefeito, Jânio Quadros, detestava conviver com os skatistas que frequentavam o lugar durante a semana.
Para freá-los, Jânio proibiu o skate no Ibirapuera. A Polícia Militar, inclusive, chegou a apreender algumas pranchas por lá. Os skatistas, inconformados, organizaram uma passeata que pedia a liberação da prática no parque.
No dia seguinte à manifestação, Jânio, não satisfeito, estendeu a proibição para toda a cidade. Em um memorando, o prefeito chegou a escrever que , com a medida, os “garotos tomariam a lição que o pai não lhes deu”.
O veto, porém, durou apenas alguns meses. Em 1989, Luiza Erundina tomou posse como prefeita da cidade e, cumprindo uma promessa de campanha, voltou a permitir o skate.
São Paulo não foi o único lugar onde o skate foi banido. Na Noruega, aconteceu a mesma coisa, só que por muito mais tempo. No país nórdico, a proibição durou onze anos. Vamos entender o que aconteceu por lá.
Acabaram os flips
O skate pegou tração na Europa em meados dos anos 1970 – uma década depois da popularização nos Estados Unidos, berço do esporte (e que já nos anos 1960 tinha campeonatos que passavam na TV).
Mas, junto com as manobras, vieram também notícias negativas, que deixaram muitos europeus preocupados. Em 1977, por exemplo, os EUA registraram 29 mortes de crianças e mais de 100 mil acidentes, tudo isso decorrente de atropelamentos e colisões nas ruas.
Foram esses números que influenciaram a Noruega a proibir, em setembro de 1978, o skate em praticamente todo o território. “Proteger nossas crianças é mais importante do que fazer algumas empresas ganharem dinheiro”, disse o governo na época.
Não era mais possível importar nem comercializar pranchas, tampouco incentivar a prática esportiva, sob pena de multa e detenção. A proibição só viria a cair 11 anos depois, em 1989. Até lá, quem quisesse praticar umas manobras precisava improvisar – longe das autoridades.
O Chorão choraria
Em Oslo, capital da Noruega, havia uma única pista no qual era permitido andar de skate. Mas isso não era garantia de que os praticantes não seriam importunados pela polícia no caminho para lá.
“Tínhamos de andar o tempo todo com um cartão que comprovava que éramos membros do clube de skate em Oslo”, disse à BBC o norueguês Joakim Henrik Wang, que foi detido duas vezes por causa do esporte.
Na primeira vez, Wang estava fazendo manobras em uma estação de trem. Na outra, a polícia não acreditou que ele e um amigo, ambos com suas pranchas, estavam voltando do parque onde era permitido andar. Ele passou a noite detido.
Era difícil conseguir equipamento. Em brechós, dava para encontrar skates antigos, de antes da proibição. Em Oslo, havia apenas uma loja que vendia pranchas – mas não as rodinhas. O jeito era viajar e comprar em outros países europeus, como na Alemanha, e se virar para passar pela alfândega.
No restante do país, onde não havia pistas legalizadas, tudo era feito à mão, das pranchas às rampas – que costumavam ficar embrenhadas em bosques ou na floresta, longe dos olhos do restante da população.
Cai o veto
A lei perdeu força no final dos anos 1980. O skate passou a ser cada vez mais difundido na Europa (e no resto do mundo). Na Noruega, o movimento pela legalização também crescia, mostrando que a proibição não fazia sentido. Em maio de 1989, o governo derrubou o veto.
Na sequência, marcas associadas a skate invadiram o país, ávidas por um novo mercado consumidor. Revistas especializadas nasceram, assim como eventos e competições.
Alguns atletas, no entanto, dizem que a proibição deixou o país uma década atrasado no esporte em relação ao resto do mundo. A Noruega ainda não conseguiu emplacar skatistas nas Olimpíadas.
O Comitê Olímpico Internacional (COI), diga-se, produziu um documentário sobre o banimento norueguês, com entrevistas de skatistas que estiveram nas trincheiras pela legalização da modalidade. Vale conferir no site oficial do COI.