A poucos dias da cerimônia de abertura dos Jogos de Paris, que será feira ao longo do rio Sena, os anéis olímpicos são onipresentes. Mas afinal: de onde ele veio?
A tradição religiosa e atlética dos gregos, que deu origem às Olimpíadas, começou a ser celebrada de quatro em quatro anos em 776 a.C. Mas os anéis não são uma herança direta desse período. Para entender essa história, precisamos ir para o final do século 19, quando nasceram os Jogos modernos como conhecemos.
O aristocrata francês Pierre de Frédy, mais conhecido pelo seu título de nobre, Barão de Coubertin, foi a mente por trás da volta das Olimpíadas (que haviam sido extintas em 396 d.C.). Coubertin era um pedagogo e um historiador, e se dedicou a recriar os jogos olímpicos no mundo moderno.
Para isso, ele fundou o Comitê Olímpico Internacional, em 1894, e ajudou a organizar a primeira competição depois de Cristo, que aconteceu em Atenas, em 1896. 241 atletas, todos homens, de 14 países competiram em nove esportes. Mas, nessa edição, os anéis ainda não existiam.
As Olimpíadas foram crescendo a cada competição. Em 1913, Pierre de Coubertin teve a ideia de criar um símbolo para ser usado no Congresso Olímpico de 1914, celebrando 20 anos do início do movimento. O plano não deu tão certo: o evento foi suspenso por causa da eclosão da Primeira Guerra Mundial.
Unidos no esporte, separados pela guerra
A bandeira é composta de cinco círculos coloridos entrelaçados sobre um fundo branco, que Coubertin desenhou com grafite e guache num papel. O desenho original foi leiloado em 2020 a um colecionador brasileiro por uma bagatela de quase R$ 1,5 milhão.
Segundo o historiador Karl Lennantz, uma das inspirações de Coubertin para o design pode ter sido um anúncio de pneus de bicicleta da Dunlop, exibido numa revista que o barão lia. Outra inspiração possível foi o psiquiatra suíço e discípulo de Sigmund Freud, Carl Gustav Jung.
O fundador da psicologia analítica teve a ideia para o emblema da União das Sociedades Atléticas e Esportivas Francesas, da qual Coubertin foi um dos fundadores e líderes. O logo consistia em dois círculos entrelaçados, um vermelho e um azul, representando, segundo Jung, a continuidade e o ser humano.
Os cinco anéis da bandeira olímpica representam os cinco continentes habitados do mundo, as Américas contando como só um continente e a Europa e a Ásia como dois separados. Além deles, também estão representadas a África e a Oceania.
“São os cinco continentes unidos pelo Olimpismo”, explicou Coubertin em um texto de 1931. Já se especulou que cada uma das cores representava um dos continentes, mas a explicação de Coubertin é outra: pelo menos uma das cores escolhidas (azul, amarelo, preto, verde, vermelho e branco) estava presente em todas as bandeiras nacionais da época.
Já que o Congresso Olímpico de 1914 foi suspenso, a primeira vez que a bandeira olímpica foi hasteada foi nos Jogos Pan-Egípcios, em Alexandria, que aconteceram no mesmo ano.
A bandeira seria inaugurada numa Olimpíada em 1916, em Berlim, mas os jogos foram cancelados, também por causa da Primeira Guerra Mundial. Os primeiros Jogos Olímpicos a usar o logo aconteceram em Antuérpia, na Bélgica, em 1920. Vinte e seis Olimpíadas depois, os anéis olímpicos serão usados mais uma vez, em Paris, representando a união de muito mais nações do que Coubertin poderia imaginar com seu primeiro rascunho.