Fotos e quadros que parecem estar em movimento são os blockbusters entre as ilusões de ótica. Não requer prática nem habilidade. É olhar e pirar.
Texto: PiU Comunicações | Design: Andy Faria | Imagens: Akiyoshi Kitaoka
le só queria fazer um cartão comemorativo diferente para os festejos do Ano-Novo chinês. Mas criou uma das mais fantásticas ilusões de ótica conhecidas. Rotating Snakes, que veremos a seguir, é obra de Akiyoshi Kitaoka, professor do departamento de psicologia da Universidade de Ritsumekan, no Japão. Kitaoka tem Ph.D. em percepção visual, criou milhares de ilusões e estuda as regras que as fazem perturbar o sistema sensorial humano com tanta intensidade.
As mais provocantes são mesmo as ilusões de movimento. Por que essas figuras mexem tanto? Ainda não dá pra saber se a origem da brincadeira está na retina ou no cérebro. Pesquisadores do Barrow Neurological Institute, de Phoenix, nos EUA, têm boas evidências de que ilusões cinéticas podem ser causadas por mínimos e involuntários movimentos dos olhos.
Eles gerariam a impressão de que os fragmentos periféricos típicos dessas figuras mudam de posição, o que cria inversões repetidas de contraste traduzidas pelo cérebro como movimento. Por isso, em alguns casos, fixar o olhar no centro da imagem diminui ou cessa as pulsações.
Essas descobertas criaram até um mito, de que pessoas mais estressadas veem os movimentos com mais intensidade e as mais relax, com menos – ou seja, no bar, depois de beber várias, ao invés de ver as figuras rodando, você as veria mais paradas do que nunca. Bobagem. A verdade é que nenhuma pesquisa comprovou relações entre o estado psicológico e o padrão de observação das ilusões cinéticas.
De todo modo, é intrigante ver como essas imagens não são percebidas do mesmo jeito por todo mundo. Teste com os seus amigos. No congresso em que Kitaoka apresentou a Rotating Snakes, em 2003, um série de cientistas com mais de 60 anos não via o movimento ali. A hipótese é de que, com o avançar da idade, aqueles micromovimentos dos olhos diminuem. Vale guardar esta revista até os 60 para tirar a prova.
Pirlimpimpim
Foque na espiral. Estrelas cintilam?
A ciência já achou que as ilusões de movimento eram fisiológicas, efeitos que aconteciam só na retina. Pesquisas novas que monitoraram a atividade neural de sujeitos pirando nessas imagens mostraram que também há influência cognitiva, cerebral. há muito o que explicar.
Corrida de carros
Mire o centro e note como algo se move sobre os anéis rosados, como rastros de microcarros apostando corrida.
Experimentos mostraram que essa percepção está relacionada a micromovimentos involuntários dos olhos. Aqui, nem fixar a visão num ponto cessa a “corrida”.
Ploc-Ploc
As bolhas vão estourar!
A ilusão é batizada em homenagem ao primeiro filme Alien, de 1979, que ganhou o Oscar de efeitos especiais. baseia-se na regra geral de gradação de contrastes: Mesmo em cores, a luminosidade dos quadradinhos segue uma sequência equivalente a preto/cinza-escuro/branco/cinza-claro/preto.
Raios
Olhe o centro. A imagem parece pulsar, enquanto uma linha fina gira radialmente, como se fosse uma hélice.
O acompanhamento da atividade neural de humanos vendo ilusões assim mostrou que os padrões estáticos da figura animam partes do cérebro associadas à visão de movimento real. O mecanismo exato do estímulo não foi desvendado.
Pisca-pisca
Passe os olhos rapidamente pela grade. Pontos pretos piscam nas interseções entre retas.
Cientistas do MIT acham que a origem da ilusão está no córtex, e não nos fotorreceptores da retina, a tese clássica. viram ainda que o efeito vale mesmo com imagem aumentada e cores invertidas.
Uau!!
As rodas não param de girar! Turbine o efeito passando os olhos rapidamente pela figura. Tente cessar o movimento fixando o olhar no centro de um círculo.
O autor já descobriu que as cores são só detalhe. O que conta é o contraste de tons e a distribuição em dégradé. Além da repetição exaustiva de padrões assimétricos e curvos.
Ciranda
O círculo de fora gira para a esquerda; o de dentro, para a direita.
Quando uma mesma imagem se projeta em pontos diferentes da retina, vemos movimento. No cinema, por exemplo, a imagem se repete “quadro a quadro”. Aqui, lado a lado. a forma dos anéis amarelos e azuis, quase de seta, dá o sentido.
Rastros
As cobras rastejam em sentidos opostos (guie-se pelas cabeças).
Baseado na chamada ilusão de Fraser-Wilcox, de 1979, O truque está na escala de cores, com boa variação de luminosidade entre o par roxo-preto e o verde-amarelo. o sentido do movimento depende da ordem das cores.
Desabrocham
As flores parecem desabrochar (ou se fechar) continuamente.
A repetição de padrões faz o efeito ser mais intenso, porque, sem poder focar um único ponto, movimentamos os olhos continuamente.
Grãos
Os grãos ondulam.
De novo, aliados a sombras conflitantes na imagem, movimentos mínimos oculares provocariam a ilusão. Cientistas acham que esses movimentos se devem à evolução do aparelho visual humano, cada vez mais especializado em detectar qualquer coisa que se mexa por perto, mesmo que sutilmente. É mais seguro.
De lá pra cá
Os retângulos “andam” para a esquerda e para a direita.
Cada retângulo tem um contorno branco e um preto de cada lado. A sombra branca dos retângulos externos se voltam para a esquerda (tudo ali parece ir para a esquerda), enquanto os contornos dos retângulos internos se voltam para a direita (eles “vão” para a direita).
DEU ENJOO?
Quem avisa amigo é: as ilusões de ótica desta revista podem causar náuseas e até ataques epiléticos.
Você pode se sentir nauseado, com dores de cabeça ou tonto depois de uma exposição prolongada a ilusões cinéticas.
O mesmo desconforto também é relatado por alguns espectadores em salas de cinema 3D. O efeito colateral atinge principalmente quem tem problemas de visão, como miopia, hipermetropia e astigmatismo, ou sofre de enxaqueca, labirintite ou epilepsia. Por que isso acontece?
No cinema, como explica a neurologista Célia Roesler, da Academia Brasileira de Neurologia, “para criar um filme em 3D, é preciso que a câmera filme duas perspectivas, dos dois olhos, baseadas em uma distância entendida como padrão entre eles”. Só podemos assistir às projeções tridimensionais porque nosso cérebro soma as duas imagens sobrepostas na película – porque, se enxergássemos por um só olho, perderíamos a noção de profundidade, explica a neurologista.
“Só que essa distância entre o olho direito e o esquerdo varia de pessoa para pessoa, e, se a diferença é muito grande, o cérebro não consegue codificar as informações do filme. Isso gera um mal-estar.” No caso das ilusões de movimento, é parecido. O site do professor Kitaoka publica o seguinte alerta aos visitantes: “Em caso de tontura, feche esta janela”. E explica: “Algumas figuras podem causar tontura ou, menos provavelmente, ataques epiléticos.
Os ataques acontecem quando o cérebro não consegue controlar as informações conflitantes que chegam dos olhos”. Mas não se afobe. Nenhum dano é irreversível, diz Célia.