Aprender a saquear a França medieval e assistir a cursos sobre mitologia nórdica sem dúvida eram atividades importantes na rotina escolar de bebês Vikings. Mas as crianças norueguesas de mil anos atrás também tinham tempo para brincar, e ganhavam dos pais barquinhos de madeira esculpidos à mão.
O item da foto acima sobreviveu por mil anos no interior de um poço de água na comuna de Ørland – um vilarejo idílico de cinco mil habitantes na costa da Noruega – e foi encontrado por arqueólogos em companhia de outros fragmentos valiosos para estudar o cotidiano da época, como um sapato de couro de 1028 d.C. Foi por volta desse ano, por razões desconhecidas, que os agricultores do local soterraram a fonte, o que evitou a decomposição das peças que haviam caído lá dentro e criou, sem querer, uma espécie de cápsula do tempo. Com a proa alta típica das embarcações Viking e um orifício no centro do casco para encaixar o mastro, o barquinho atesta a influência das navegações de longa distância no imaginário popular da época.
“O barquinho diz muito sobre as pessoas que viveram ali”, afirmou Ulf Fransson, líder da equipe da Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega (NTNU). “As crianças dessa fazenda podiam brincar, elas tinham permissão para fazer algo que não fosse trabalhar nas plantações e ajudar os pais.” Os pesquisadores lembram que a região não era próspera, e estava distante das principais rotas comerciais marítimas da época – a humildade da propriedade agrícola em que costumava ficar o poço torna a existência do brinquedo ainda mais intrigante.
Essa não é a primeira vez que a arqueologia nórdica brinca em serviço. Segundo a assessoria da NTNU, no ano 1900, quando o sistema de esgoto do prédio que hoje é a biblioteca pública da cidade de Trondheim estava sendo instalado, surgiu um barquinho similar em meio às escavações. Trondheim, porém, é a terceira maior cidade da Noruega, e era um centro comercial importante na era Viking – encontrar crianças com tempo para brincar por lá não chega a ser uma exigência exótica, mesmo no período medieval.
O sítio arqueológico de Ørland é um dos mais produtivos do país. Uma área de 120,000 m2, equivalente a quatro shoppings de grande porte, já foi escavada, e lá foram encontrados resquícios de sete fazendas que ocuparam o local entre 500 a.C. e 1000 d.C.