Arqueólogos anunciaram nesta semana a descoberta da pérola mais antiga já encontrada no mundo. Tanto a datação por radiocarbono quanto a camada de solo em que foi escavada atestam suas origens muito remotas: entre os anos 5.600 e 5.800 antes de Cristo.
A pequenina gema preciosa é de um rosa pálido e mede só um terço de centímetro. Foi localizada em 2017 em um sítio arqueológico próximo da capital dos Emirados Árabes.
Naquela época, há 8 mil anos, essa minúscula ilha a oeste da cidade de Abu Dhabi era habitada por um povo do período Neolítico — último estágio da Idade da Pedra famoso por ter sido palco do advento da agricultura e das primeiras cidades.
A Ilha Marawah abriga ruínas de pedra de uma habitação desses tempos, que pertenceu a seres humanos muito familiarizados com o mar ao redor. Há ali restos de diversas criaturas marinhas. Ossos de tartarugas, golfinhos e peixes mostram a integração com o ecossistema marítimo. E a descoberta da pérola é importante para entender como viviam essas pessoas. “A presença de pérolas em sítios arqueológicos é uma evidência de que o comércio de pérolas existe desde pelo menos o período Neolítico”, disse em vídeo Abdulla Khalfan Al-Kaabi, diretor da divisão de arqueologia do Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi.
Produzidas pelas ostras e outros moluscos como reação à entrada de corpos estranhos, como um grão de areia ou outro animal, as pérolas sempre foram valorizadas pela humanidade. Ao lado das pedras e do metais preciosos, essas gemas valiam fortunas e eram usadas para decorar jóias e itens de luxo. Diversos documentos históricos citavam Abu Dhabi como um importante centro produtor desses pequenos tesouros.
Ao longo dos séculos e principalmente durante o século 19, a principal fonte de renda da cidade vinha do comércio de pérolas, até que o petróleo entrou em cena — e os japoneses dominaram a indústria das bolinhas preciosas. Eles desenvolveram técnicas de cultivo que criavam pérolas perfeitas, redondas e lisinhas. Antes disso, povos como o de Marawah tocavam o processo de um jeito mais artesanal, mergulhando para caçar pérolas selvagens.
Por muito tempo, não se soube ao certo quando os mergulhos começaram. O achado, que surpreendeu até mesmo os arqueólogos, revela que essa prática é muito mais antiga do que se pensava entre os locais. “A Pérola de Abu Dhabi é uma descoberta impressionante, um testemunho das origens antigas de nossa interação com o mar”, disse em comunicado Mohamed Khalifa Al Mubarak, chefe do Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi.
“A descoberta da pérola mais velha do mundo em Abu Dhabi deixa claro que muito da nossa história econômica e cultural recente tem raízes profundas que se estendem até a aurora da pré-história”, ressaltou Al Mubarak. No mesmo sítio arqueológico, que começou a ser escavado em 1992, os pesquisadores encontraram cerâmicas da Mesopotâmia — indício de que o povo de Marawah trocava suas pérolas por bens de civilizações próximas.
A “nova” gema bateu o recorde da pérola que até então detinha o título de mais antiga do mundo, desenterrada em 2012 em outro dos sete emirados árabes, o de Umm Al Quwain. Ela data de 5.500 a. C. Além da preciosidade prática, tudo indica que essas bolinhas também tinham um alto valor simbólico e mesmo ritualístico na região. Várias delas já foram encontradas em sepulturas, onde eram depositadas sobre os lábios do falecido.
Na semana que vem, a pérola rosada entra em exibição pela primeira vez. Será um dos 350 artefatos preciosos da exposição “10.000 anos de Luxo”, organizada pelo Louvre Abu Dhabi entre 30/10 e 18/2 de 2020. As peças incluem desde um carpete mameluco do século 15, até objetos modernos de marcas como Louis Vuitton e Chanel, para explorar a história e o significado dos bens de luxo desde a antiguidade até os tempos atuais.