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Crânio encontrado na África do Sul sugere que Homo naledi sepultava seus mortos

Os fragmentos de 250 mil anos são os primeiros a serem atribuídos a uma criança da espécie. O achado reforça a hipótese de que o sistema de cavernas Rising Star serviu como cemitério no passado.

Por Carolina Fioratti
8 nov 2021, 17h08
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  • Pela primeira vez, pesquisadores encontraram um crânio parcial infantil de um Homo naledi na África do Sul. A estrutura, que foi datada pelos cientistas em 250 mil anos, estava em uma fresta profunda e praticamente inacessível do sistema de cavernas Rising Star. Sua localização leva os cientistas a acreditarem que a peça foi colocada ali propositalmente, reforçando a hipótese de que este grupo de hominídeos já sepultava seus mortos. 

    Para entender a história, é preciso voltar até 2015, quando foram encontrados as primeiras evidências de Homo naledi nesta mesma região. Mais de mil ossos cobriam o chão de uma das câmaras da caverna, sugerindo que o espaço havia servido como um cemitério no passado. Mas a hipótese foi colocada em xeque por outros cientistas, já que o Homo naledi possuía um cérebro de tamanho inferior ao dos humanos modernos e aparência primitiva – rudimentar demais para realizar rituais do tipo.

    O crânio infantil levanta novamente essa possibilidade. Ele foi encontrado a 12 metros de distância desse primeiro material recuperado, mas estava em uma área de difícil acesso. Para chegar até o local, os paleontólogos tiveram que passar pela chamada Câmara do Caos, que está repleta de passagens claustrofóbicas que não chegam a ter nem um metro de largura e de altura. A pequenez do espaço faz questionar se alguém entraria ali sem segundas intenções. 

    Em uma das frestas, havia 28 fragmentos de crânio e seis dentes, sendo dois deles de leite. Os outros quatro dentes não apresentavam sinais de desgaste, o que indica que eles saíram da gengiva havia pouco tempo. Os pesquisadores atribuíram os restos mortais a uma única criança, que teria entre quatro e seis anos de idade no momento em que faleceu. Ela recebeu o nome Leti, proveniente da palavra tswana letimela, que significa “o perdido”. O estudo completo pode ser encontrado no periódico científico PaleoAnthropology.

    A caverna possui centenas de quilômetros quadrados, sendo dividida em câmaras e espaços estreitos. Há quem refute a ideia do sepultamento e acredite que, na verdade, muitos hominídeos apenas entraram, se perderam naquele local e acabaram morrendo por lá. Por outro lado, há pedaços de carvão na caverna – material que não foi diretamente associado ao Homo naledi, mas pode ter sido usado para criar tochas e iluminar o caminho do grupo durante a andança dentro dos sistemas para deixar os mortos. 

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    Os achados não remetem apenas a estudos sobre os sepultamentos do passado. Ter os restos mortais de uma criança pode ajudar os cientistas a investigar as mudanças enfrentadas pelo corpo à medida que os Homo naledi entravam na idade adulta. Emma Pomeroy, pesquisadora da Universidade de Cambridge (Reino Unido) não envolvida no estudo, disse à New Scientist que esses padrões de crescimento “são o que distingue os humanos e outras espécies relacionadas”.

    Apesar dos cérebros pequenos, os Homo naledi viveram na mesma época que os neandertais e humanos modernos. Há registros, inclusive, de que os neandertais sepultavam seus mortos há 70 mil anos. A nova pesquisa mostra que os rituais funerários podem ser anteriores a esta data.

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