Tiranossauros rex são caracterizados especialmente pela falta de proporção entre os braços e o resto do corpo. O crânio grande, cauda musculosa e altura de quase cinco metros parecem não combinar com bracinhos diminutos. A evolução, porém, não foi exclusiva quando encurtou os membros da família do T-Rex.
Em 2012, paleontólogos descobriram o fóssil de um grande dinossauro carnívoro. Mas foi só dez anos depois que o achado foi propriamente identificado e descrito. E os cientistas descobriram que, além de se tratar de uma nova espécie, os ossos do animal estão entre os exemplares mais completos já descobertos para a família à qual pertence.
O dinossauro recebeu o nome de Meraxes gigas. É um terópode (uma subordem de dinossauros bípedes e, geralmente, carnívoros ou onívoros) e pertence a um grupo de predadores com grandes dentes serrilhados, similares aos de tubarões, chamados Carcharodontosaurus – a mesma família do Giganotossauro, o “antagonista” do recente filme Jurassic World: Dominion (2022).
O Meraxes viveu no início do Cretáceo, há 144 milhões de anos (os T-rex, no final do período, 66 milhões de anos atrás). O nome vem de um dragão da série de livros As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin. Convenhamos: encaixa bem para um dino com dentes enormes – e que pesava mais de quatro toneladas.
A trajetória dos braços curtos
Embora os paleontólogos tenham apenas o esqueleto parcial do Meraxes, ele inclui pedaços importantes. Eles encontraram, por exemplo, quase todo o crânio – um achado significativo, uma vez que muitos outros Carcharodontossaurus não são completamente conhecidos. A partir disso, estimaram que o Giganotossauro tinha um crânio de cerca de 1,5 metro de comprimento – corrigindo estimativas anteriores.
Essas novas informações estão ajudando os cientistas a reconstruirem a aparência de outros Carcharodontossaurus gigantes. Braços e pés eram quase desconhecidos em outras espécies da família, mas no Meraxes os quadris, pernas, ombros e braços estão quase completos – o que possibilitou colocá-los no clube dos dinos de braços pequenos. O comprimento total do braço de Meraxes é menor do que a metade do comprimento do osso de sua coxa. A proporção é semelhante a do Tarbosaurus, um parente próximo do T. rex.
Saber que alguns dos últimos Carcharodontossaurus tinham braços curtos ajudará os paleontólogos a rastrear quando as mudanças começaram. Afinal, os Carcharodontosaurus que viveram antes tinham esses membros anteriores mais alongados. O Meraxes mostra que, nos próximos dinos do grupo, o tamanho dos membros foi diminuindo. Os T-rex passaram por uma mudança semelhante ao longo do tempo.
Segundo os pesquisadores, também parece existir uma correlação entre cabeças mais pesadas e braços menores nos grandes predadores carnívoros. Meraxes, T-rex e seus parentes tinham como ponto forte a sua mordida devastadora – seus braços não eram bons para caçar presas e até mesmo terópodes com braços maiores, como o Allosaurus, não seriam capazes de ver o que estavam agarrando. Para esses dinos, ter bracinhos que ficavam fora do caminho podia evitar que fossem feridos e quebrados. A evolução, então favoreceu essa característica.
O que ainda intriga paleontólogos é que os braços desses dinos tinham alguma função, ainda que pequena. Existem diversas hipóteses, mas ainda não dá para ter certeza do que Meraxes e cia. faziam com eles.