Quem pega a rodovia M18, na Irlanda, pode observar um pequeno arbusto. Aparentemente, ele não tem nada de especial – é uma vegetação comum de beira de estrada, como qualquer outra. Só que esse arbusto em específico foi responsável por desviar a obra de uma rodovia. O motivo? Ele é, supostamente, a casa de fadas.
Em 1999, rolava o projeto de uma via expressa para contornar as cidades de Newmarket-on-Fergus e Ennis. A construção ia bem, até que Eddie Lenihan, um folclorista famoso no país, ficou sabendo que o arbusto estava ameaçado.
Em defesa desta frondosa unidade de vegetação, ele escreveu uma carta de alerta para as autoridades locais: se arrancassem o arbusto, as fadas amaldiçoariam a estrada e todos que a utilizassem. Haveriam mais acidentes, e alguns motoristas morreriam.
Segundo Lenihan, fazendeiros locais haviam encontrado manchas brancas ao redor da planta – um sinal inequívoco de… sangue de fada. O arbusto seria uma espécie de ponto de encontro de fadas durante batalhas, um lugar para elas se reagruparem e repensarem táticas antes de voltar para o combate.
Parece estranho imaginar as dita-cujas tão violentas. Mas, segundo o folclore irlandês, as fadas são vistas como guardiões ferozes de suas moradas – seja uma colina, um anel de cogumelos no chão, um lago, bosque ou um arbusto específico.
Quem acredita na existência desses seres tem certeza de que violar esses espaços traz a ira das fadas, que vão tentar ferozmente expulsar as pessoas ou objetos que invadiram ou destruíram suas casas.
Parece absurdo para nós, mas é coisa séria naquelas bandas da Europa. Por exemplo: Arthur Conan Doyle, o autor das histórias de Sherlock Holmes, tinha certeza absoluta de que fadas existiam, e de que havia fotografias provando isso (as fotos em questão, naturalmente, foram manipuladas).
A notícia de que as fadas seriam expropriadas ganhou proporções internacionais – veículos como a CNN e o New York Times escreveram, na época, sobre a história.
A repercussão e o envolvimento de Lenihan valeram a causa. Depois de analisar o terreno do arbusto e os desenhos do projeto, os engenheiros constataram que seria possível contorná-lo e, assim, não incomodar as fadas.
“Não pensei que houvesse qualquer necessidade, sob todos os pontos de vista, de que fosse cortado. Estou feliz que as pessoas tenham percebido o bom senso”, afirmou Lenihan, na ocasião, ao jornal The Irish Times.
O arbusto foi incorporado ao paisagismo do desvio. Mais de vinte anos depois, ele continua firme e forte, com suas residentes felizes e tranquilas na beira da estrada.