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Jacques Lacan

Lacan acreditava que a linguística oferecia novos instrumentos para a compreensão das ideias de Freud.

Por Texo: Agência Conteúdo | Arte: Andy Faria
18 set 2020, 10h59
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ascido em 1901, um ano após a publicação da obra que marcou o surgimento da psicanálise (A Interpretação dos Sonhos, de Sigmund Freud), o psiquiatra e psicanalista francês Jacques Marie Émile Lacan teve a vida marcada por seu trabalho dedicado à revisão e divulgação da obra do pai da terapia que buscava a cura pela palavra. Lacan era o primogênito de uma típica família burguesa da Paris da virada do século 19 para o 20. A tradição católica ditou as regras de sua criação. Principalmente em função de seu pai, Alfred, vindo de famílias baseadas no paternalismo e no culto à religião.

A avó paterna de Lacan, Marie, era herdeira de uma família de comerciantes de vinagres, devotados ao trabalho e às regras de conduta. Seu avô, Émile, era um fervoroso seguidor dos preceitos da Igreja e um pai autoritário. Do lado da mãe, o psicanalista francês também teve influência religiosa, mas nada disso fez com que Jacques Lacan se submetesse ao ambiente conformista. Na adolescência, ele era visto na escola, ao mesmo tempo, como um bom aluno e como um arrogante, incapaz de se comportar como os demais.

A inadequação ao comportamento esperado de um jovem católico logo o levou também a rejeitar o universo familiar e os valores cristãos predominantes na família e na escola. Lacan cresceu, foi estudar medicina e, aos poucos, se tornava uma pessoa cada vez mais apartada de suas origens. Foi nesse período que começou a ler Nietzsche e conheceu as ideias de Freud.

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Era a década de 1920 e, enquanto Lacan se voltava para o estudo da psiquiatria, nascia a Sociedade Psicanalítica de Paris. Ao mesmo tempo, a capital francesa se firmava como um centro de produção literária e filosófica, ambiente receptivo às ideias freudianas. Nesse cenário, Lacan estudou neurologia e psiquiatria, sem deixar de lado seu interesse pela obra de Freud, que influencia seu trabalho de conclusão de curso: Da Psicose Paranoica em Suas Relações com a Personalidade.

Terminada a faculdade, Lacan passou a fazer análise e a se dedicar aos estudos das ideias de Freud e de linguística e filosofia. Foi o período que abriu caminho para que ele deflagrasse a partir dos anos 1950 a defesa do “retorno a Freud”, pregando preceitos baseados nas propostas iniciais do pai da psicanálise.

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“Se a religião triunfar, será sinal de que a psicanálise fracassou.” – Frase de Lacan em uma conferência dada à imprensa, em 1974, em Roma. (Photo/Shutterstock)

Seguidor das ideias de Freud, Lacan se considerava um freudiano. Mas discordava dos caminhos que a psicanálise tradicional vinha trilhando. Ele acreditava que a linguística oferecia novos instrumentos para a compreensão das ideias de Freud. A psicanálise revolucionou com a proposta do inconsciente e da cura pela palavra. Mas Lacan via que, naquele período, a atividade vinha se voltando para uma metodologia em que o tratamento era conduzido com os sentimentos do analista em relação ao que o cliente dizia, em vez de estimular o cliente na busca de seu próprio insight por meio da associação livre, como preconizava Freud.

A volta ao caminho original do pai da psicanálise mobiliza os estudos e a atuação de Lacan a partir de 1953 até 1970 para divulgação de sua clínica por meio de seminários. Esses encontros semanais, realizados em Paris nas décadas de 1950 e 1960, foram o principal eixo de difusão das ideias do psicanalista francês. O conteúdo exposto nessas palestras foi compilado em livros que encerram a linha de pensamento de Lacan.

A produção de Lacan entrou numa nova fase a partir dos anos 1970, com a busca do que chamou de uma segunda clínica, na verdade uma segunda etapa dos estudos de Lacan. Na primeira, ele buscava a valorização do insight e do que o cliente dizia por meio da associação na livre investigação do que estava retido no inconsciente. Dessa vez, Lacan propunha uma nova forma de interpretar os relatos, voltada para a responsabilização e a invenção do futuro. Foi à lapidação dessa técnica que o francês se dedicou até a sua morte, em 1981.

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