O Natal é uma festa querida por muitos – e pra lá de lucrativa. Só que nem sempre foi assim. No começo da Igreja Católica, os fiéis não comemoravam seus aniversários; o Natal, celebração do nascimento de Cristo, estava fora de questão. A Igreja via a ocasião como uma demonstração de orgulho e a considerou pagã durante muito tempo. Foi só no século 4 que ela passou a adotar a festa.
Quem também não curtia muito a ideia do Natal eram os puritanos, um grupo de protestantes um pouco mais radicais. No século 17, eles proibiram a comemoração do Natal em Boston, nos Estados Unidos.
Os Estados Unidos foram colônia do Reino Unido do início do século 17 até o final do século 18. Nesses quase duzentos anos, os britânicos trouxeram seu povo, língua, cultura e religião. O protestantismo foi estabelecido na década de 1530, então grande parte dos que vieram para a América já praticavam a religião.
A cidade de Boston, parte da colônia da Baía de Massachusetts (que, mais tarde, se tornaria o estado de Massachusetts), foi fundada especificamente por puritanos. Suas visões religiosas dominavam a cultura e o sistema político. Em 11 de maio de 1659, um decreto proibiu os habitantes da cidade de celebrar o Natal. Quem fosse visto comemorando a data, seja faltando ao trabalho, fazendo festas ou algo do tipo, teria que pagar uma multa de cinco xelins (equivalente hoje a 60 libras ou 370 reais).
Os puritanos da cidade consideravam a festa uma celebração pagã, e o uso dos nomes de figuras sagradas, um sacrilégio. Esses protestantes estavam numa fase meio adolescente rebelde, e queriam se desvencilhar de qualquer vestígio católico. O Natal era uma festividade católica, e também foi considerada pagã por um tempo – então a data entrou na lista de repúdio deles.
Outra coisa que incomodava os puritanos era a comemoração em si. O Natal dos ingleses era diferente do nosso – e bem mais animado. A festa durava 12 dias, de 25 de dezembro a 5 de janeiro. No dia do Natal mesmo, o comércio fechava, as ruas eram decoradas e as pessoas celebravam com suas famílias e amigos. Nos demais dias, as lojas funcionavam por menos tempo, e os que podiam bancar festas mais longas estendiam as comemorações.
Os puritanos achavam que essa farra toda era um excesso. Eles consideravam o período de Natal como um tempo de indolência, de preguiça, como um grande desculpinha esfarrapada para pessoas perfeitamente saudáveis pararem de trabalhar e irem se divertir com a família e os amigos.
O paganismo e a preguiça resultaram na proibição. Os bostonianos só puderam comemorar o Natal quando o decreto caiu, na década de 1680. Durante um período de regência conhecido como Domínio da Nova Inglaterra, Londres assumiu o controle direto de algumas das colônias. Isso significava que elas perderiam alguns de seus direitos e precisariam ceder a algumas das ordens da metrópole – como a suspensão de certas leis, entre elas, a multa do Natal.
Mesmo com a festa liberada, demorou um tempinho até que ela pegasse no povo. Relatos contam que, durante alguns anos, a população seguiu a vida normalmente, como se a data fosse só mais um dia de dezembro. Massachusetts foi um dos últimos estados americanos a oficializar o Natal como um feriado – foi só em 1856, vinte anos depois do primeiro.