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O homem que foi indicado 155 vezes ao Nobel – e nunca ganhou

Gaston Ramon foi um dos maiores nomes no desenvolvimento das vacinas como as conhecemos hoje.

Por Victor Bianchin
17 out 2025, 14h15

Atingir a excelência em seu campo de atuação é algo que poucos conquistam. Mas ainda tem um problema extra: chegar lá e não ser reconhecido por isso.

Há muitas injustiças na história do Nobel: Rosalind Franklin (uma das estudiosas que contribuíram para a descoberta da estrutura do DNA), Dmitri Mendeleev (criador da tabela periódica moderna), John von Neumann (criador da teoria dos jogos na computação) e Nikola Tesla (desenvolvedor da corrente alternada para uso em larga escala) nunca ganharam um, entre outros exemplos notáveis.

Mas há um cientista específico que talvez seja o mais injustiçado de todos: o veterinário francês Gaston Ramon (1886-1963). Entre os anos de 1930 e 1953, ele recebeu 155 indicações e nunca levou nenhum Nobel. Ninguém teve tantas indicações quanto ele e ficou de mãos abanando.

O Comitê do Nobel só torna públicas as listas de indicados 50 anos depois da premiação. Quando a revista Nature fez o levantamento das 155 indicações de Ramon, em 2016, só estavam disponíveis os indicados do Nobel de Medicina até o ano de 1953, e assim permanece até hoje, embora o site oficial ofereça acesso aos indicados em outras categorias até 1974.

Essa quantidade enorme de indicações foi possível porque o Nobel aceitava múltiplas indicações da mesma pessoa no mesmo ano, desde que fossem feitas por diferentes cientistas ou organizações. E Ramon foi muito prolífico em sua carreira: produziu 867 artigos científicos ao longo de décadas de estudos e pesquisas. 

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E por que ele perdeu tanto? A revista Nature teoriza que, àquela altura, muitos prêmios já haviam sido distribuídos para descobertas em imunologia. Em 1901, por exemplo, Emil von Behring foi laureado por sua descoberta de que o soro contendo anticorpos contra a toxina da difteria poderia ser usado para tratar a doença. E foi por um motivo parecido que Ramon foi indicado.

A grande descoberta de Gaston Ramon: os adjuvantes

Ramon trabalhava no Instituto Pasteur, uma fundação francesa fundada em 1887 e que sempre foi pioneira nos estudos sobre doenças infecciosas. Lá, ele era responsável por imunizar centenas de cavalos com toxinas de difteria e tétano. Após a imunização, ele coletava o plasma sanguíneo dos animais, que continha anticorpos capazes de neutralizar as toxinas — esse plasma era depois usado na produção de soros terapêuticos para humanos.

Esses soros eram a base do tratamento de difteria e tétano para humanos na época. Mas eles eram usados após a pessoa ter sido infectada, ou seja, eram tratamentos passivos e não preveniam a doença.

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Em 1915, Émile Roux (co-fundador do Instituto e outro importante imunologista francês que nunca ganhou o Nobel) solicitou a Ramon que encontrasse uma técnica para esterilizar os soros terapêuticos, já que eles eram frequentemente contaminados durante a fabricação ou armazenamento, o que levava ao aparecimento de abscessos em pacientes tratados. Ramon teve a ideia de adicionar formalina (solução aquosa do formaldeído) ao soro na concentração de 1‰, o que resultou em uma mistura não apenas eficaz, mas também isenta de risco infeccioso. 

Durante a imunização dos cavalos, Ramon observou que os animais que desenvolviam abscessos no local da injeção dessa nova mistura apresentavam uma resposta imunológica mais forte, produzindo maior quantidade de anticorpos. 

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Foi aí que veio o momento “eureca”: a formalina, que foi adicionada com o objetivo de prevenir infecções, acabou melhorando o efeito da vacina nos cavalos. A partir daí, Ramon identificou que essas substâncias que causavam inflamação local, chamadas de adjuvantes, tinham o poder de potencializar a resposta imunológica. Essa descoberta levou à introdução dos adjuvantes nas vacinas, melhorando sua eficácia.

“Adjuvante” vem do latim “adiuvare” e significa ajudar ou auxiliar. Foi uma descoberta extremamente importante para o universo da imunologia: sem ela, a maioria das vacinas atuais simplesmente não existiria.

Entre os adjuvantes mais conhecidos estão os sais de alumínio, diversos agonistas (substâncias capazes de se ligarem a um receptor celular e ativá-lo), os sistemas AS01 e AS02 e vários outros. Vacinas que usam adjuvantes incluem as de: influenza (gripe), hepatite, coqueluche, HPV, malária e covid-19.

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À medida que envelhecemos, nosso sistema imunológico começa a perder a capacidade de responder bem a infecções. Como consequência, ele fica também menos capaz de responder adequadamente à maioria das vacinas, a menos que adjuvantes (ou formulações similares) estejam envolvidos. Portanto, sem os adjuvantes e as vacinas turbinadas por eles, nós estaríamos desprotegidos de muitas doenças modernas que são preveníveis. 

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