A contagem de tempo dos romanos, de início, era um caos. O calendário usado na fundação de Roma – supostamente criado pelo rei Rômulo – era lunar (ou seja, guiado por ciclos lunares de 29,5 dias) e consistia em anos de dez meses. É por isso que, até hoje, nosso ano termina em dezembro: na época, como o próprio nome diz, ele era o décimo mês.
Esses 10 meses somavam apenas 304 dias. Os outros 61 caíam em um limbo durante o período de inverno, e nem eram contados no calendário. Foi por isso que o segundo rei de Roma, Numa Pompílio, criou os meses Janeiro e Fevereiro, dando origem ao ano dividido em 12 partes.
A duração desses meses extras ainda era baseada nos ciclos da Lua. Isso resultava em um ano de 355 dias, que não batia com a recorrência das estações.
O calendário passou por diversas mudanças durante a Monarquia e a República romanas: ora os governos mudavam o número de dias em cada mês, ora adicionavam um mês intercalar para sincronizar os anos com as estações. Quem decidia isso eram pontífices, de acordo com motivações religiosas e políticas.
No século 1 a.C., a situação se tornou insustentável. Os astrônomos da época já sabiam que a Terra demora cerca de 365,25 dias para dar uma volta ao redor do Sol. O calendário romano mais atrapalhava na contagem do tempo do que ajudava.
Foi aí que o imperador Júlio César resolveu fazer uma grande reforma, inspirado pelo modelo solar egípcio. Essa civilização se guiava pelo movimento do Sol, e não da Lua – por isso tinham anos de 365 dias. A partir de 45 a.C., o ano romano também passou a ter 365 dias, com um ano bissexto a cada quatro anos. César puxou a sardinha para si, e a mudança ficou conhecida como calendário juliano.
O modelo egípcio/juliano deu tão certo que se tornou o padrão no ocidente por 1.600 anos. Só tem um problema. O período real de translação da Terra não é de exatos 365,25 dias – são 365,242189. Na prática, isso significa uma diferença de 11 minutos e 14 segundos a menos a cada ano. É algo imperceptível ao longo de uma geração, mas esse decréscimo de minutos, acumulado, gera um dia a cada 128 anos.
Por causa disso, quando chegamos ao século 16 d.C., o calendário juliano já estava dez dias adiantado em relação à translação da Terra. Isso tornava particularmente complicado determinar a Páscoa, que ocorria no primeiro domingo após a primeira lua cheia de um evento chamado equinócio vernal – que deve ocorrer no final de março, idealmente.
Antes de o descompasso juliano se acumular, a Páscoa caía por volta do dia 21 de março. Nos anos 1570, ela já estava nas cercanias do dia 11 de março. Foi aí que o Papa Gregório XIII resolveu acertar o relógio: ele chamou astrônomos e matemáticos para montar um calendário ainda mais preciso.
O resultado foi o seguinte: o calendário continuaria tendo 365 dias, com um bissexto a cada quatro anos. Mas, caso o ano fosse múltiplo de 100, e não de 400, então ele não teria um dia a mais. Seguindo a regra juliana, os anos 1700, 1800 e 1900 deveriam ter sido bissextos. Porém, eles não são divisíveis por 400 – então não tiveram o dia 29 de fevereiro graças à nova regra. Já os anos 1600 e 2000 são divisíveis por 400, então continuaram sendo bissextos.
Com esse ajuste, porém, os anos passaram a ter, em média, 365,2425 dias. Não é perfeito, mas já é um avanço em relação ao anterior. O Papa oficializou o novo calendário em 1582, e esse segue sendo o padrão até hoje.
E o que fazer com os 10 dias extras do calendário juliano? Cortaram fora. Foi um sacrifício necessário para que a Páscoa voltasse a cair no final de março. Isso aconteceu no segundo semestre de 1582: o dia 4 de outubro (uma quinta-feira) foi sucedido pelo dia 15 de outubro (uma sexta). Simples assim.
Países católicos, como Espanha, Portugal e Itália, aderiram ao calendário do Papa imediatamente. Já os protestantes (como Reino Unido, Países Baixos e parte da Alemanha) levaram anos para seguir a decisão da igreja. Durante os séculos 16 e 17, cruzar as fronteiras da Europa significava avançar ou voltar dez dias no tempo. O calendário gregoriano só se espalhou ao redor do mundo na metade do século 18, quando o Império Britânico aderiu ao modelo.