Um levantamento feito pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica (NBER) dos EUA analisou o comportamento de rainhas e imperatrizes de vários países europeus entre 1480 e 1913. A ideia era descobrir se estadistas do sexo feminino têm uma tendência maior ou menor a entrar em guerra em relação a tiranos homens.
Entraram na conta 193 reinados, 18% deles femininos. Conclusão? Do final da Idade Média até a 1º Guerra, líderes mulheres partiram para a porrada com 27% mais frequência que os marmanjos. O número contraria hipóteses de campos de pesquisa como a psicologia evolutiva, que afirma que indivíduos do sexo masculino tendem a ser mais violentos – e, por consequência, a tomar decisões políticas menos diplomáticas.
Os pesquisadores levantaram várias hipóteses para explicar a discrepância no número de guerras em que cada sexo se envolveu. Uma delas era que as governantes, por causa do machismo, fossem consideradas mais frágeis por seus adversários – e por tabela, os Estados comandados por elas sofressem mais tentativas de invasão.
Os números, porém, revelaram uma tendência curiosa: na média, só territórios comandados por rainhas solteiras eram invadidos. As casadas costumavam ser as invasoras. A explicação está nos papéis de gênero – e nas complexas intrigas familiares – da época.
Quando uma rainha tinha marido, ele tendia a ocupar um cargo de destaque nas forças militares do país. Isso melhorava a relação entre poder executivo e exército. Além disso, as leis de sucessão da maior parte dos países não permitiam que maridos tomassem o lugar de suas esposas caso elas morressem. Por causa disso, quase nenhum homem levaria vantagem em matar sua companheira em um golpe de Estado. Para esses nobres, era mais vantajoso se aliar às mulheres para os dois, juntos, planejarem intrigas contra parentes bem mais perigosos.
Outro fator, um pouco mais sutil, também afeta a estatística: na passagem da Idade Média para os Estados absolutistas, por volta dos séculos 14 e 15, a centralização política levou a um crescimento exponencial da burocracia e das forças militares. Rainhas com maridos influentes nas forças militares e na vida pública tinham governos mais estáveis e aumentavam as próprias chances de formar alianças com outros países – o que, em longo prazo, se convertia em um exército maior e mais bem organizado. A lógica oposta, por causa do machismo, não se aplicava: um rei casado não tirava vantagem política, já que sua esposa, em geral, era proibida de ocupar cargos importantes.
Para saber mais
3 mil anos de guerra
Felipe van Deursen, Superinteressante, 2017