Yuri, Sergey, Ivan. Os nomes mais comuns na Rússia soam como se fizessem parte de um mundo próprio. Mas não. Em geral, eles têm a mesma origem de nomes comuns no resto do mundo. Veja alguns casos aqui.
Ivan = João
A origem aqui é bíblica. Vem de João Batista. Mas e o “João” do Batista, vem da onde? Do hebraico antigo. O nome original dele no livro sagrado é Yohanan. Significa “Abençoado por Javé” (ou seja, por “Abençoado por Deus”). O nome se espalhou de forma viral pelo ocidente, ganhando variações de acordo com cada ramo linguístico: Sean (gaélico da Irlanda), Ian (gaélico da Escócia), Giovanni (italiano), János (Húngaro).
Yuri = Jorge
Vem do grego “georgós”. Não precisa saber grego para entender o signigicado. As raízes aí são “geo” (terra; igual em “geografia” ou “geodésica”) e “ergo” (trabalho, como em “ergonomia”, ou “ergonométrico”). Ou seja: “Georgós” é o sujeito que trabalha com a terra – um agricultor. O nome espalhou-se, claro, graças a São Jorge. Ele teria sido um militar romano do século 3, de origem palestina (e a cultura da palestina era grega, daí o nome), e que foi morto por não renunciar ao cristianismo. A história desse militar, que servia na Capadócia (Turquia), ganharia contornos épicos na Idade Média, com direito a dragões e casa na Lua. E espalhou-se ferozmente pelo mundo. Tanto que “Jorge” (ou “George”) se tornou um nome comum em lugares bem díspares: da Inglaterra, que teve seis “King Georges”, à Cisjordânia, onde “George” é o nome masculino mais comum entre palestinos cristãos, passando, claro, pelo mundo eslavo, que adotou a grafia “Yuri”.
Sacha = Alexandre
O nome da filha da Xuxa é unissex na Rússia – serve como diminutivo de Aleksandr ou de Aleksandra. Já a raiz de tudo é grega – vem de “alex” (defensor) + “andros” (homem). Defensor dos homens.
Sergey = Sérgio
É um nome romano. Um sobrenome, na verdade. O primeiro registro de um Sérgio é o do político romano Lucius Sergius Fidenas, que viveu no século 5 a.C. Uma lenda urbana diz que o nome significa “servo”. Mas não. A origem do nome vem dos etruscos, o povo que dominava a península itálica antes dos romanos, por volta de 1.000 a.C. E está perdida. Provavelmente para sempre.
Vladimir = Valdemar (e Voldemort!)
Vem das raízes eslavas “vladi” (líder) e “mer” (grande, maior). Nas línguas germânicas, a junção dessas raízes virou “Waldemar”. Em finlandês, Voldemar (e foi dessa variante que a JK Rowling tirou o Lord Voldemort, de Harry Potter).
Micha = Miguel
“Miguel”, na verdade, é Mikhail, prenome do Gorbatchev. “Micha” é só o diminutivo. De qualquer forma, Mikhail, Michel, Miguel e tudo o mais são variantes do nome hebraico “Mikhael”. O curioso é que esse nome vem de uma pergunta: “Mikha El?. O nome, separado e com uma interrogação na frente, significa, numa tradução mais do que livre, “E aí? Quem é maior do que Deus”? (na Bíblia, o Todo Poderoso responde por dois nomes, “El” e “Javé”. O primeiro virou o sufixo de Miguel, Michael, Michel e, em russo, Mikhail. O segundo, como você já viu aqui, acabou formanda a raiz de João (e das várias versões desse nome). E trata-se de uma pergunta retórica – uma afirmação de que não, maior do que Deus ninguém é. Um adendo: sim, Miguel e Michel são o mesmo nome. Ter os dois na carteira de identidade, como acontece com o Presidente Michel Miguel Temer, pode até ter sua beleza poética. Mas, na letra fria da etimologia, é uma senhora redundância, não muito mais sofisticada do que a variante brasileira-contemporânea “Maicon”, que, claro, nasceu da tentativa de reproduzir silabicamente a pronúncia anglo-saxã de “Michael“.