Manguetown virou o segundo nome da capital pernambucana, e o manguezal é um dos ecossistemas mais presentes no dia a dia e no imaginário recifense. Além dos rios, das pontes e overdrives, o Recife é marcado pela vegetação encontrada nos limites entre os rios que cortam o território e o mar, formando cinturões verdes em várias áreas da cidade.
Mas a importância do ecossistema imortalizado pelo movimento Manguebeat e pelo cantor Chico Science não fica só nas músicas. #hellocidades, projeto da Motorola que incentiva a redescoberta das cidades e o desenvolvimento de uma nova relação com elas, convida você a conhecer mais sobre esse universo de água salgada e doce, areia, lama, flora e fauna.
“Os mangues prestam uma lista enormes de serviços ao Recife”, conta Clemente Coelho Júnior, biólogo, oceanógrafo e professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco. “Além de toda a sua beleza cênica, a floresta de mangue presta vários serviços ecossistêmicos, como o de filtro biológico e o de berçário para variadas espécies de animais. Além disso, ela também atua na área verde pública da capital – as áreas mais arborizadas da cidade se dão onde há remanescentes dessa vegetação”, explica.
Temperaturas mais amenas, atmosfera mais limpa e diminuição dos sintomas do efeito estufa são outros benefícios trazidos pelos mangues do Recife. Mas a verdade é que a vegetação é uma sobrevivente em meio aos problemas estruturais da cidade, que tem, ainda hoje, um sistema sanitário precário. “Todos os municípios sofrem com a falta de saneamento básico na Região Metropolitana do Recife, e esse é o maior impacto sobre os manguezais e o estuário. A vegetação absorve parte do esgoto, mas a fauna do ecossistema é impactada pelos dejetos e pelo lixo”, lamenta Coelho Júnior.
Decididos a combater a degradação da vegetação que, além de proteger os rios, garante parte da renda familiar, a Associação de Pescadores e Aquicultores da Ilha de Deus, comunidade de pescadores no bairro da Imbiribeira, na Zona Sul do Recife, decidiu agir por conta própria. “Nós organizamos mutirões de limpeza e ações de conscientização sobre a importância da preservação do manguezal na escola da comunidade”, diz Fábio Romão, pescador e diretor da associação. “Também buscamos ajudar no repovoamento do rio, soltando espécies nativas que criamos em cativeiro.”
A associação da Ilha de Deus mantém viveiros de camarão com o intuito de aumentar a renda das famílias que vivem na comunidade. A produção é pequena, somente para a subsistência. O excedente é vendido para pessoas da própria comunidade, que o revende ao público geral em mercados da cidade.
As atividades de limpeza do mangue são feitas de tempos em tempos, para diminuir a quantidade de lixo que chega com a maré e preservar o ecossistema que ajuda no sustento.
Apesar do cenário não muito favorável que a urbanização desenfreada trouxe para os manguezais do Recife, o professor Clemente Coelho Júnior aponta uma característica importante do ecossistema. “Os manguezais possuem uma adaptação incrível, que acaba por atuar na sua própria recomposição. Como é um ecossistema regido pelas marés, elas acabam levando as sementes, digamos assim, para os bancos de areia ou de lama, e ali acaba nascendo uma floresta de mangue”. Apesar dos pesares, o mangue sobrevive e ressurge exuberante no cenário da capital pernambucana, mas a população também pode ajudar evitando o desmatamento, o aterro de áreas de mangue e o descarte de lixo nas águas da cidade, além de cobrar dos órgãos responsáveis soluções para as questões ligadas ao saneamento básico.
Que tal conhecer o mangue mais de perto? Passeie por essas incríveis florestas, registre e espalhe a consciência por meio da hashtag #hellocidades. Invista em uma nova relação com a cidade e conecte-se através do hub hellomoto.com.br.