As expedições à Espação Espacial Internacional duram seis (longos) meses. Até a incrível vista da Terra à distância deve virar rotina. Com só outras 6 ou 7 pessoas para conviver, duas horas de exercício repetitivo por dia e alguns passeios em gravidade zero, dá para imaginar que o tédio deve bater em algum momento. E, acredite se quiser, os astronautas combatem o bode do mesmo jeito que você: se entregando de corpo e alma a séries e filmes.
A estação espacial conta com uma impressionante coleção de mais de 530 filmes. Não chega perto do Netflix, é claro: só a versão brasileira tem mais de 25 mil itens (apesar desse número contar os episódios das séries individualmente).
O mais surpreendente é a escolha de filmes: quem está em uma posição tão delicada quanto a órbita terrestre deveria evitar filmes sobre acidentes espaciais ou ataques alienígenas, certo? Errado. 10% de toda a biblioteca cinematográfica dos astronautas fala do espaço.
Imagine assistir à toda franquia de Alien na estação – sabendo que você estaria na linha de frente de qualquer invasão extraterrestre ou, pior, teria que observar de longe sem fazer nada. E como não se identificar com a equipe de Armageddon?
Pelo menos não são só tragédias – há aventuras cósmicas para todos os gostos. Tem documentários como The Last Man on the Moon, que conta a história de Eugene Cernan, o último astronauta a pisar no nosso satélite; o programa do Discovery Channel Quando saímos da Terra, que reconta os primeiro 50 anos de viagem espacial e até Cosmos, série apresentada pelo polêmico Neil Degrasse Tyson.
Até a Disney ganhou um espacinho com Planeta do Tesouro e seus piratas interestelares. A coleção não esquece, é claro, dos clássicos: os astonautas podem fazer maratonas de Star Wars (sem o episódio VII) e Star Trek à vontade. Até a série Firefly (e a continuação em filme, Serenity) está disponível para os astronautas.
Dá para entender que quem trabalha no espaço também seja fã do universo na ficção. Difícil é saber porque alguém assistiria a Gravidade em plena estação espacial – e o capitão Scott Kelly o fez em grande estilo no ano passado, em um projetor HD da NASA. Por outro lado, talvez esse filme tenha ultrapassado a cota de acidentes espaciais: Apollo 13, um dos mais famosos do gênero, ficou de fora.
Por mais extenso que seja a Netflix espacial, ele não está lá muito atualizado. Nem sinal de Game of Thrones. Das séries Alias e 24 Horas, só estão disponíveis as primeiras temporadas. Não vale a pena ficar viciado em House of Cards no espaço, porque só vai dar para assistir à quarta temporada na Terra. O último filme da trilogia do Hobbit também não chegou. Mas nem tudo é questão de tempo: Matrix Revolutions já tem treze anos e não foi levado para o espaço – talvez só seja muito ruim mesmo.
Já a disputa entre Marvel e DC também está bombando lá em cima. Com Vingadores e Guardiões da Galáxia, a Marvel tem 8 filmes no espaço, e a DC só 7, contando com Batman Para Sempre e o Retorno (ugh!).
Irônico é pensar que, na biblioteca espacial do cinema, estão as duas versões de A Volta ao Mundo em 80 dias, uma de 1956 e outra de 2004. Isso porque, na vida real, a Estação completa uma volta na Terra… a cada 90 minutos.
Além de distrair, os filmes também têm outra função. De comédias românticas e shows de standup ao documentário da BBC Planeta Azul, os astronautas se lembram como são as pessoas e as paisagens aqui embaixo, no nosso mundo – e matam um pouquinho a saudade de casa.
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