A maneira mais comum é por meio de empresas de fachada, ou seja, negócios “de mentirinha” controlados pela própria organização criminosa que quer lavar a grana. Os criminosos pegam o dinheiro que ganharam de um jeito ilegal (tráfico de drogas, falsificação de dinheiro ou sonegação de impostos, por exemplo) e fazem parecer que ele foi ganho por essa empresa, que, no papel, tem uma atividade honesta. O trambique também rola quando não é o uso, e não a origem do dinheiro, que é ilegal. É o caso de igrejas que não poderiam gastar o dinheiro doado por fiéis comprando bens para seus líderes, e sim em obras de caridade. A origem do termo “lavagem de dinheiro” tem duas explicações: a primeira é que nos Estados Unidos, na década de 20 uma rede de lavanderias funcionava como empresa de fachada. A outra teoria é que um grupo americano colocava notas de dólares falsificadas para lavar. Assim, elas ficavam com aparência de velhas e podiam ser usadas como se fossem limpinhas. :-S
LAVANDERIA PAGUE-E-LEVE
Nessa empreitada, empresas de fachada são usadas para forjar origem honesta para dinheiro ilegal
1) A grana obtida com uma atividade ilegal, como tráfico de drogas ou prostituição, por exemplo, não pode ser gasta sem mais nem menos – isso levantaria suspeitas que poderiam entregar a atividade do bandido. É por isso que ele precisa bolar um jeito de camuflar essa origem e dar a impressão que o dinheiro foi ganho de um jeito honesto
2) O dinheiro é transferido para conta de uma empresa de fachada, que existe só no papel ou até existe, mas para fins excusos. Essa empresa pode alegar que prestou um serviço que nunca existiu – e receber por isso – ou mentir que teve um faturamento acima do real. Um restaurante que vende cem refeições por dia, por exemplo, faz sua contabilidade como se tivesse vendido cento e cinquenta, e “lava” o valor das refeições a mais
> Muitos bandidos escolhem comércios que movimentam dinheiro em espécie, como restaurante, porque fica mais difícil de mostrar a origem do dinheiro
> A polícia obriga os bancos a informarem depósitos de grande valor. Por isso, os criminosos dividem o bolo em vários pequenos depósitos, uma tática chamada de “smurf” pelos especialistas
3) Para desvincular ainda mais os criminosos do dinheiro, a empresa de fachada faz várias operações financeiras. A grana pode ir para bancos sediados em paraísos fiscais ou centros “off-shore”, onde os responsáveis pelas movimentações bancárias têm sigilo garantido pela legislação local. Essa fase é chamada de “ocultação” – o dinheiro troca de “dono” várias vezes para dificultar o rastreamento
> Paraísos fiscais são territórios onde, além de haver uma carga tributária pequena, existe sigilo bancário: as instituições não são obrigadas a informar o autor de operações financeiras
4) É hora de o dinheiro, que perdeu seu vínculo imediato com a atividade ilegal, retornar à organização criminosa. Um laranja (pessoa que serve como intermediário em negócios fraudulentos) pode receber um empréstimo de uma das instituições localizadas no paraíso fiscal, ou uma outra empresa, também de fachada, pode receber pagamentos vindos de bancos e empresas desses países. É a fase chamada de “integração”
5) Agora, os bandidos têm dinheiro com aparência de legalidade, com origem controlada, de uma empresa que teoricamente não tem ligação com o crime. Então, o dinheiro é usado pela organização criminosa. Por exemplo, traficantes costumam investir no patrimônio pessoal e igrejas compram carros para seus líderes
6) Mas, nesse caminho todo, os bandidos acabam deixando pistas – como movimentação de dinheiro incompatível com o tamanho da empresa de fachada, ou um número muito grande de depósitos em quantidades que quase atingem o mínimo necessário para que ele seja comunicado a uma comissão especial do Ministério da Fazenda.