Em seres vertebrados como nós, o processo de absorção de alimentos pelo organismo envolve uma complexa engrenagem. É o famoso aparelho digestivo – um longo tubo em que se encontram órgãos como boca, estômago e intestinos, provido de comportas e barreiras que abrem e fecham em admirável sincronia, dando o ritmo necessário a cada etapa do processo. Além disso, entram em ação coadjuvantes como o fígado e o pâncreas, responsáveis pela produção de enzimas que ajudam a quebrar a comida mastigada em partículas menores. Nutrientes como carboidratos, gorduras e proteínas contêm moléculas complexas, que têm de ser partidas para serem assimiladas por nossas células. Essa tarefa cabe a enzimas chamadas hidrolíticas, porque dividem essas longas cadeias moleculares acrescentando a elas moléculas de água. Cabe a nós não sobrecarregar o aparelho – por isso, é fundamental mastigar bem cada bocado. “Quando comemos depressa, o estômago perde tempo triturando os pedaços grandes que não foram bem mastigados.
Isso retarda a digestão e causa desconforto”, afirma o gastroenterologista Joaquim Prado Moraes Filho, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Resta dizer que a ciência médica ainda não compreende totalmente como funciona o chamado s istema nervoso entérico, complexa rede de fibras nervosas que controla toda a movimentação do tubo entre o estômago e os intestinos.
1. A mastigação dos alimentos forma o chamado bolo alimentar. A saliva contribui com a amilase, enzima que ajuda a digerir os amidos (presentes principalmente em massas)
2. O bolo alimentar é levado ao estômago pelo esôfago, que é apenas um órgão de condução: ele não participa no processamento do alimento
3. O esôfago se contrai e relaxa progressivamente, de modo parecido com o de apertar um tubo de pasta de dentes. Esses movimentos – chamados peristálticos – levam o alimento ao estômago mesmo com a pessoa de cabeça para baixo
4. Quando o bolo está para entrar no estômago, se abre uma válvula: o esfíncter inferior do esôfago. O resto do tempo ele permanece fechado para impedir que o conteúdo estomacal venha tubo acima, o que causaria queimaduras
5. O bolo é banhado pelo suco gástrico ao cair no estômago. O suco é composto de ácido clorídrico, enzimas e muco, substâncias produzidas por células da mucosa estomacal. Esse ácido é tão forte que queimaria o interior do órgão, não fosse a camada de muco, de cerca de 2 milímetros, que o reveste
6. As principais enzimas contidas no suco gástrico são a pepsina (que age nas proteínas) e a lipase (que atua nas gorduras). Cerca de três contrações peristálticas por minuto vão misturando o suco gástrico ao bolo alimentar, até deixá-lo cremoso como iogurte
7. O fígado produz a bílis, outra substância ácida, com sais que ajudam a quebrar gorduras. Do pâncreas vem o suco pancreático, que contém mais lipase e amilase (esta, mais concentrada do que na saliva)
8. A saída do estômago se dá através do piloro, outra válvula do aparelho digestivo. Ela libera o bolo aos poucos para o duodeno, a primeira seção do intestino delgado. Nesse ponto, ocorre a mistura com as secreções vindas do fígado e do pâncreas
9. Na segunda seção do intestino delgado, o jejuno, é onde o alimento finalmente começa a ser absorvido. Nesse momento, o organismo libera líquido para facilitar o processo
10. As paredes do intestino delgado têm sulcos chamados vilosidades, que, por sua vez, possuem microvilosidades. É através delas que se dá a absorção dos nutrientes pelo organismo
11. Nas paredes do intestino existem também sensores que estimulam os hormônios digestivos a fabricarem mais ou menos secreções (bílis, por exemplo) conforme a necessidade
12. A terceira e última seção do intestino delgado é o íleo . Até aqui, o tubo todo é estéril, ou seja, livre de bactérias. Daqui em diante, surgem bactérias que ajudam na reabsorção dos sais biliares, para reaproveitá-los numa próxima digestão
13. Quando o bolo chega ao intestino grosso, ocorre uma grande reabsorção de água pelo organismo. Isso faz com que, a partir daí, ele vá tomando consistência pastosa. Ao entrar em contato com o colo (ou cólon, seção intestinal entre o íleo e o reto), encontra as bactérias responsáveis pelo mau cheiro do produto final
14. As fezes são formadas principalmente por celulose (fibra vegetal não digerível), além de células mortas do tubo digestivo, que se regenera constantemente, e outras moléculas grandes demais para serem absorvidas. Da boca ao ânus, o bolo completa uma viagem de cerca de 7,5 metros em um adulto