Como funciona o controle de tráfego aéreo?
Mano Lopez,
Charqueadas, RS
O controle sobre aviões e helicópteros começa antes mesmo do embarque e só se encerra quando a luz de apertar os cintos se apaga. Entre esses dois momentos, cada aeronave é acompanhada constantemente por pelo menos um controlador de tráfego, que pode ter sob sua responsabilidade até sete aeronaves simultaneamente e, portanto, centenas de vidas. “Mas para a gente não importa se um avião leva 1 ou 300 pessoas. As aeronaves têm a mesma importância”, diz o tenente Bruno Pinto Barbosa, chefe do Centro de Controle de Aproximação de São Paulo. Para auxiliar os controladores, existem sistemas de meteorologia e telecomunicação, radares e computadores. Toda transmissão é duplicada para cobrir possíveis falhas. Afinal, qualquer segundo de cegueira do controle aéreo pode aumentar a probabilidade de uma tragédia como a do vôo 1907 da Gol, que matou 154 passageiros no ano passado.
Ases domáveis
Toda aeronave passa por três níveis de controle entre a decolagem e o pouso
1. Antes de embarcar, o piloto faz o plano de vôo. É um documento com dados sobre a aeronave, os locais de partida e chegada, horas previstas de pouso e decolagem, rota, altitude e velocidade etc. Os dados vão para a central de controle de tráfego aéreo, que analisa o plano e faz os ajustes necessários
2. Já na cabine, o piloto se comunica com a torre pela primeira vez. Ele é atendido pelo controlador de clearance, que checa todos os detalhes do plano de vôo, comunica as alterações feitas pela central e, no final, passa o código de transponder da aeronave – uma espécie de RG no espaço aéreo
3. Já com o código de transponder, o piloto fala com o controlador de solo, que também fica na torre do aeroporto. Ele observa a pista para verificar se o caminho está livre e autoriza o pushback: um trator empurra o avião (que não tem marcha à ré), deixando-o na direção da pista
4. O piloto liga o motor, segue até uma linha na cabeceira da pista, pára e entra em contato com um terceiro controlador na torre para pedir autorização para decolagem. Essa pessoa precisa garantir que entre cada pouso e decolagem haja um tempo mínimo de segurança, entre 100 e 120 segundos
5. A cerca de 10 quilômetros do aeroporto, o avião perde contato visual com a torre e passa a ser controlado pelo radar do chamado Controle de Aproximação ou APP (de APProach, “aproximação” em inglês). O de São Paulo, por exemplo, controla diariamente 1 500 pousos e decolagens, cobrindo uma área de cerca de 200 quilômetros de diâmetro
6. A função dos controladores do APP é garantir uma distância mínima entre os aviões nas proximidades do aeroporto. Em algumas situações eles podem até “dirigir” o avião, indicando pelo rádio as coordenadas, a velocidade e a altitude que o piloto deve adotar para não bater em outra aeronave
7. Quando sai da área do APP, a aeronave entra no espaço do Controle de Área, ou ACC (Area Control Center). No Brasil, esse controle é feito por quatro centros, conhecidos como Cindactas, formados por vários radares cada um. Através deles, os controladores verificam se as aeronaves seguem seu plano de vôo corretamente
8. Quando uma aeronave se aproxima de um aeroporto, sai do controle dos Cindactas e entra em contato com os controladores do APP do aeroporto em que vai pousar. E segue o caminho inverso do que fez na decolagem: primeiro APP, depois entra em contato com a torre do aeroporto