Amarelo
Na Antiguidade, pensava-se que a icterícia – uma doença que deixa a pele do paciente amarela –, tinha algo a ver com a bílis, uma secreção produzida pelo fígado que tem gosto amargo e também é dessa cor.
Os médicos dessa época chamava as secreções corporais de humores, e eles tinham uma função central nas hipóteses dos gregos e romanos sobre o funcionamento do corpo humano – hipóteses essas que predominaram ao longo da Idade Média e só foram questionadas a partir do século 18.
A ideia básica era que as pessoas ficavam doentes porque havia um desequilíbrio nas quantidades de cada líquido – algo que impactava não só a saúde física como a mental.
É daí que vem o sentido contemporâneo da palavra “humor”: originalmente ela significava “líquido”, e tem a mesma origem etimológica de “úmido”. Uma pessoa mal-humorada era uma pessoa com os humores desregulados.
A bile amarela era o líquido associado ao comportamento colérico, agressivo, e era chamada de “humor amargo”. No latim, “amargo” era amargus, que no diminutivo virava amarellus. E daí vem o nome “amarelo”.
Marrom
A castanha portuguesa, aquela do Natal, se chama marron em francês. E foi daí que veio o nosso “marrom”. Aliás, o marrom-glacê é originalmente um doce escuro feito com castanha portuguesa (a versão da receita com batata-doce foi uma invenção brasileira).
Laranja
A fruta chegou na Europa de carona com os árabes, conforme as atividades comerciais no Meditarrâneo se acentuaram, no final da Idade Média. Se chamava narandja (essa é uma transcrição aproximada da pronúncia em árabe).
Na época, os europeus não tinham nome corrente para a cor localizada entre o vermelho e o amarelo. Do mesmo jeito que o português, hoje, não tem um nome popular para a cor localizada entre o verde e o amarelo – alguns a chamam de amarelo-limão; outros, de verde-limão.
Foi assim, tapando um buraco, que o nome da fruta pegou também no espectro cromático.
Preto
O nome da cor preta tem a mesma raiz do verbo latino premo, que significava “pressionar”. A associação emergiu do fato de que a cor transmite uma sensação densa, espessa, apertada (perceba, inclusive, a semelhança entre palavras como “preto”, “pressa”, “impressão” e “apertado”).
Cinza
Não tem segredo: o nome da cor vem da palavra “cinza” em sua acepção original: o pó que resta após a combustão de alguma coisa.
Branco
O nome vem do termo franco-germânico blank, que significava “brilhante” ou “polido”. Só depois veio a associação com a brancura. Não é difícil entender como: até hoje, quando acabamos de passar um belo pano no chão, nos orgulhamos do feito dizendo: “Olha só, ficou branquinho”.
Aliás, o termo “arma branca”, usado para se referir a facas e punhais, vem daí: branco no sentido original de polido, reluzente.
A palavra blank existe até hoje em diversas línguas germânicas. No inglês contemporâneo, por exemplo, ela ganhou outra acepção: significa “lacuna”. Como aquelas que você precisa preencher com a palavra certa em exercícios escolares. Branco acabou associado ao vazio na folha.
Azul
Foi uma pedra preciosa chamada lápis-lazúli que batizou a cor azul.
Lapis já queria dizer “pedra” em latim. Daí vem “lápide” e “lapidar”. Por sua vez, “lazúli” vem do árabe lazurd, que era o nome dessa rocha azulada para os mouros (novamente, a transcrição da pronúncia árabe é aproximada).
Ou seja: o nome da pedra, mesmo, é “lazúli”, sem o “lápis” antes. A palavra árabe, em última instância, vem do persa lajvard. Os persas (iranianos) usavam esse mineral abundantemente para ornamentar prédios e objetos.
Vermelho
Antigamente, como ninguém conhecia urucum nem pau-brasil na Europa, o único jeito de fazer tinta vermelha era usar um minúsculo inseto – hoje chamado de cochonilha – que, esmagado, produzia um pigmento vermelho.
Taxonomia não era o forte dos romanos: para eles, qualquer bichinho pequeno e antipático podia ser chamado de “verme”. “Vermelho” vem do diminutivo vermiculus: “vermezinho”.
Até hoje, o francês e o inglês possuem a palavra vermillion, mas ela não é parte do vocabulário corrente: costuma ser usada por designers, arquitetos etc. para se referir a um tom bastante específico de vermelho, que é muito brilhante e tende um pouquinho para o laranja.
Com consultoria de Mário Viaro, filólogo da Universidade de São Paulo (USP).