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O homem que criou “a maldição do Fofão”

Se você cresceu nos anos 80 e começo dos 90, este homem é o responsável por uma das maiores lendas urbanas brasileiras daquela época. Uma história que tirou o sono de crianças, deixou pais transtornados, provocou formadores de opinião a formar opiniões excênctricas, causou rixas, intrigas e picuinhas nos cantos dos recreios e nos quartos […]

Por Felipe van Deursen
Atualizado em 8 mar 2024, 11h16 - Publicado em 9 out 2015, 13h13
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  • Deusenir

    Se você cresceu nos anos 80 e começo dos 90, este homem é o responsável por uma das maiores lendas urbanas brasileiras daquela época. Uma história que tirou o sono de crianças, deixou pais transtornados, provocou formadores de opinião a formar opiniões excênctricas, causou rixas, intrigas e picuinhas nos cantos dos recreios e nos quartos de meninos e meninas. Instigou o interesse anatômico de futuros médicos. Foi assunto de programas de rádio e TV. Povou os pesadelos de uma geração. Uma história tão polêmica que estaria em 11 de cada blogs caça-cliques de hoje, alimentando manchetes como “você não vai acreditar o que existe dentro dele”.

    Estamos falando da lenda do Fofão. Se você não viveu naquela época, é possível que tenha ouvido a respeito. A ME encontrou Deusenir Prieto, o homem por trás da “maldição do Fofão”.

    PAUSA PARA O COMERCIAL – A lenda do Fofão e outras histórias incríveis do tipo estão na matéria de capa da Mundo Estranho de outubro: Brinquedos Assassinos. Corra para a banca, supermercado ou livraria!

    fofão

    ME – Qual era sua função na Mimo [fabricante do boneco do Fofão nos anos 80]?

    Deusenir Prieto – Sou formado em Métodos e Processos, o que me deu um vasto conhecimento em todos os processos que envolvem a fabricação de brinquedos. Eu era gerente de desenvolvimentos na Mimo

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    Como a estrutura do boneco do Fofão foi desenvolvida? Ela foi inspirada na de outro brinquedo?

    Na época, não tínhamos o enchimento em fibra de poliéster como hoje, então enchíamos com microesferas de isopor. Como esse material não nos dava estabilidade no boneco, precisei desenvolver uma estrutura em que se fixava a cabeça e, posteriormente, a introduzia no corpo, com boneco já envasado com as microesferas. Para facilitar o processo, essa estrutura tinha forma alongada, o que se assemelhava a uma adaga. Mas ela não era pontiaguda nem cortante

    O brinquedo atendia às normas de segurança da época? Hoje ele atenderia?

    Todos os brinquedos criados e desenvolvidos na Mimo estavam dentro da normas. Tínhamos um laboratório interno onde fazíamos os testes prévios de segurança, mesmo antes de enviar ao laboratório certificador. Cada técnico tinha uma cópia da norma em sua bancada de trabalho.

    Que lembranças o senhor tem da época do lançamento do boneco? Como foi a recepção do público?

    Me lembro do lançamento. A recepção do público foi além da expectativa, pois o Fofão tinha um carisma muito grande com as crianças. Foi um tremendo sucesso. Tão grande que chegamos a produzir a segunda versão do Fofão, que chamamos de Fofãozinho.

    Quanto às histórias de “punhal negro, maldição, pacto com o diabo” etc., o senhor, e a Mimo, sempre tiveram conhecimento?

    Foi muito depois do produto ter feito um tremendo sucesso. Depois até da segunda versão. Se eu não me engano, foi uma rádio do Norte ou Nordeste que fez esse comentário. Assim como havia outros comentários de nossa primeira boneca Xuxa, que diziam que a boneca estava presa em uma redoma de vidro em uma igreja, por ter arranhado uma criança [leia mais sobre a história da boneca da Xuxa na ME de outubro.

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    boneca Xuxa

    Perguntando a nossos leitores que não viveram nos anos 80, muitos se referiam a Fofão mais como um boneco – ou um boneco que tinha uma lenda urbana – do que ao personagem da TV. O senhor sabia da dimensão que o boneco criou em quase 30 anos?

    Vejo o Fofão como um marco para aquela época, que trouxe muita alegria às crianças. Especialmente àquelas que tiveram contato com o personagem por intermédio de seu criador, Orival Pessini, que sempre teve a preocupação e a ética de transmitir apenas mensagens boas

    Que outros brinquedos o senhor criou?

    Teve um projeto que chegou em minhas mãos para desenvolver, a primeira boneca grávida, que se chamava Ganha Nenê. Na época, foi uma tremenda polêmica, o que se reverteu em propaganda positiva. Vendemos muito. Criei a boneca Gessinho, que tinha duas peças em vinil imitando o gesso, aplicadas no bracinho e na perninha. Ela vinha também com uma muleta. Também desenvolvi os primeiros bonecos com o corpo em espuma da Turma da Mônica. Eles tinham um cabeção enorme e, como o Fofão, também precisaram de uma estrutura para sustentar a cabeça. Mas, como o corpo era feito em espuma, a estrutura não tinha a forma de uma espada (risos)

    Criei ainda um bebê que tomava mamadeira e em seguida começava a chorar. Quando a criança trocava a fralda, via que a boneca estava com assaduras nas perninhas, bastava aplicar água fria e elas sumiam. Ao secar as perninhas, a boneca parava de chorar. Não fiz só bonecas, mas também brinquedos e jogos de tabuleiro. O mais recente foi a primeira boneca com reconhecimento de voz, chamada Alice Inteligente

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    O senhor enriqueceu de alguma forma com o Fofão?

    Minha maior riqueza foi poder criar meus filhos dentro de um mundo tão encantador que é o brinquedo. E também poder ver a felicidade de uma criança ao receber um brinquedo que eu criei ou desenvolvi. Trabalho há 38 anos criando e desenvolvendo brinquedos. Sei da importância do brincar. É uma luta constante, e uma tristeza, ver nossas crianças deixarem de ser criança muito cedo. Além disso, é uma pena não termos aqui no Brasil universidades preparando pessoas para trabalhar com brinquedos

    Por quê?

    Brincar é formar caráter

    Leia também:

    – Os bonecos mais assustadores de todos os tempos

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