Parece um céu estrelado
As cavernas de Waitomoo viraram atração na Nova Zelândia graças a um inseto que habita seu interior. Na fase larval, a Arachnocampa luminosa constrói teias grudentas nas paredes e usa seu brilho azul para atrair insetos voadores. As vítimas ficam presas e viram almoço. E nós, humanos, ficamos maravilhados com o show de luzes…
Ataque e defesa
Acredita-se que cerca de 90% dos organismos marinhos em regiões abissais tenham esse dom. O peixe-dragão (Grammatostomias flagellibarba) o utiliza tanto para o ataque (seu “cavanhaque” atrai presas) quanto para a defesa (diante de um predador, abre membranas na barriga que revelam um brilho assustador)
Uma parceria brilhante
Em alguns casos, a bioluminescência é gerada pelo próprio organismo. Em outros, por bactérias, que cooperam em simbiose com o hospedeiro. Um dos exemplos desse último tipo é o peixe-pescador (Melanocetus johnsonii), que apareceu em Procurando Nemo. Ele usa um apêndice na cabeça repleto de bactérias brilhantes para atrair presas
Sinal verde
Embora o nome científico possa sugerir, a Hinea brasiliana não é encontrada por aqui. Esse caracol marinho que habita litorais rochosos da Austrália intriga os pesquisadores. Quando em perigo, o molusco se retrai e começa a emitir flashes verdes. O curioso é que sua concha amplifica essa cor, mas é opaca para todas as outras
Farol aceso
As luzes desta larva e das fêmeas adultas deste besouro explicam o apelido de “trenzinho”. O Phrixothrix hirtus, encontrado no Brasil, tem 11 pares de “lanternas” verdes, que atraem presas. Mas o charme é a luz vermelha na cabeça, única desse tipo em seres terrestres. Pesquisadores acreditam que sirva para iluminar o caminho e procurar comida.Muitos desses bichos na fauna brasileira são estudados pelo projeto Biota-Biolum, da UFScar
Cada zunido é um flash
Vaga-lume é o nome popular para milhares de espécies de besouros, entre elas a Aspisoma lineatum. Só no Brasil há cerca de 500 delas, que emitembioluminescência por diferentes partes do corpo e com diferentes padrões de sinalização e cores. De forma geral, eles brilham para atrair parceiros sexuais, quando são adultos, e para não virar comida de outros bichos, na fase larval
Eu vi gnomos
O show não se restringe ao reino animal. Nas florestas tropicais, já foram catalogados mais de 70 tipos diferentes de fungos luminescentes, como o Mycena luxaeterna e o Mycena chlorophos. A maioria tem pouco brilho. Embora alguns sejam tóxicos, não há consenso sobre como e por que emitem luz. Pode ser para atrair insetos, espalhar esporos ou até se proteger
O que vem de baixo não me atinge
A água-viva Aequorea aequorea usa esse truque de um jeito curioso. Ela produz um brilho azulado de modo que, quando vista de baixo para cima, é confundida com a luz da superfície. Já a colega Atolla wyvillei, que habita regiões abissais, prefere assustar em vez de enganar. Diante de um predador, ela libera uma luz alarmante
Agite antes de reluzir
Também dá para encontrar esse fenômeno nas camadas superficiais dos mares. Culpa de dinoflagelados como a Noctiluca scintillans. Essas algas unicelulares emitem luz quando ficam “agitadas”. Isso pode ser visto à noite, até no Brasil, quando ondas quebram em litorais que apresentam alta concentração desses seres
A RECEITA FAICANTE
Luz é gerada em um processo de oxidação
1) A reação bioquímica que gera luz varia de organismo para organismo. Mas alguns detalhes são comuns a todos eles. Primeiro, uma molécula catalisadora (facilitadora de um processo bioquímico) denominada genericamente como “luciferina” se associa a uma proteína chamada de “luciferase”
2) A luciferina é então oxidada com oxigênio (O2) e fica energeticamente excitada
3) Ao voltar ao seu estado fundamental, ela dissipa essa energia em forma de luz
CONSULTORIA Vadim Viviani, professor e coordenador do programa de pós-graduação em genética e evolução da UFSCar, e Rogilene Prado, pesquisadora do laboratório de bioquímica de sistemas bioluminescentes da UFSCar
FONTES Sites BBC, International Society of Bioluminescence and Chemiluminescence e biolum.net; livro Antes Que os Vaga-Lumes Desapareçam – A Influência da Iluminação Artificial sobre o Ambiente, de Alessandro Barghini; artigos “A Lagarta do Nariz Vermelho”, de Igor Zolnerkevic, e “Marine Bioluminescence – Why do So Many Animals in the Open Ocean Make Light?”, de Edith Widde