ILUSTRA Murilo Araújo
EDIÇÃO Felipe van Deursen
1. PROGRAMADO PARA MATAR
Às 22h do dia 8 de dezembro de 1980, o americano Mark Chapman disparou cinco tiros contra o ex-beatle John Lennon, em frente ao edifício Dakota, em Nova York, onde o artista vivia. Mas Chapman não teria agido por conta própria. Ele estaria com a mente controlada pela CIA, FBI e membros da extrema direita, que supostamente viam em Lennon uma ameaça à sociedade
2. VEJAM TODOS!
O plano estaria sendo arquitetado havia alguns anos, pois Chapman seria um dos homens preparados pelo MK Ultra, programa de controle mental da agência de inteligência dos EUA. A mente dele teria sido programada para que ele deixasse o Havaí, onde morava, e matasse o músico, a sangue frio, na frente de testemunhas que pudessem comprovar que o assassino era ele
3. ISSO, ISSO, ISSO
Em seu depoimento à polícia, Chapman disse que não sentiu emoção ao atirar, apenas ouvia uma voz na cabeça que repetia “faça isso, faça isso”. Ele puxou o gatilho com força e ficou ali parado. Meses depois, alegou que matara o beatle para promover o livro O Apanhador no Campo de Centeio, de J.D. Salinger. Chapman teria alegado ainda que a canção “Imagine” negava a Deus, propondo que paraíso e inferno não existem, e que Lennon era um blasfemo, por dizer que os Beatles eram mais famosos que Jesus Cristo
4. PERIGOSOS E SUBVERSIVOS
Em 1989, o advogado e jornalista britânico Fenton Bresler lançou o livro Who Killed John Lennon (“Quem matou John Lennon“, não publicado no Brasil), em que afirmava que o músico foi eliminado por ser uma influência subversiva. O FBI e a CIA o considerariam perigoso por sua capacidade de se comunicar com os jovens. Além de Lennon, outras lideranças populares também teriam sido mortas pelos mesmos motivos
5. QUEM QUER GREEN CARD?
Lennon teria se tornado um perigo em 1971, quando fez o show Free John Now em prol da libertação do poeta americano John Sinclair, preso por porte de maconha. A partir daí, Lennon teria sido investigado até 1976, resultando num dossiê de 300 páginas. Ele, que era inglês, ainda ralou para ganhar o visto americano – o país era chefiado pelos republicanos Richard Nixon e Gerald Ford
6. PAZ E AMOR
O visto de Lennon veio em 1976, junto com novos ventos na política do país. Segundo a teoria da conspiração, a eleição do democrata Jimmy Carter à presidência naquele ano teria contido o ímpeto assassino da CIA e do FBI. Foram tempos de paz, que Lennon aproveitou para se afastar dos holofotes e criar seu filho Sean, nascido em 1975 de sua relação com a artista multimídia japonesa Yoko Ono
7. O RETORNO
Em novembro de 1980, Lennon e Yoko lançaram o álbum Double Fantasy. Essa volta coincidiu com o fim do mandato de Carter e ascensão ao poder de Ronald Reagan, republicano que teve como administrador de sua campanha William Casey. Em janeiro de 1981, pouco após o assassinato, Casey se tornou o novo diretor da CIA
8. CLÁSSICO DO MAL
Um exemplar de O Apanhador no Campo de Centeio também teria sido encontrado na casa de John Hinckley Jr. (que em 1981 atirou no presidente Reagan) e na de Lee Harvey Oswald (preso acusado pelo assassinato de outro presidente, John Kennedy), em 1963. O livro, um dos mais importantes dos EUA, seria um gatilho para matadores pré-programados. A missão ficaria “adormecida” na mente até que a pessoa lesse o livro
Por outro lado…
Não há evidências de que Chapman fosse um maluco com a mente dominada
- Em outubro de 1980, Chapman foi a Nova York para matar Lennon, mas desistiu. No dia do crime, chegou ao Dakota, encontrou Lennon, pediu um autógrafo e esperou algumas horas para então matá-lo
- O músico inglês foi mesmo investigado de perto. Em 2004, a abertura de um arquivo do FBI revelou que a instituição desconfiava de ligações do beatle com o Exército Republicano Irlandês (IRA) e com políticos de extrema esquerda do Reino Unido, o que não foi comprovado
- Após receber o visto americano, Lennon de fato tirou um período sabático
- Preso em flagrante e condenado à prisão perpétua, Chapman está há 37 anos no presídio de Attica, em Nova York
- O assassino foi examinado por psiquiatras e psicólogos, que não acharam nada de anormal
- Ao ser preso, ele declarou que só queria ser famoso, e que Lennon foi a vítima mais acessível. Sua lista de alvos tinha a atriz Elizabeth Taylor e o apresentador de televisão Johnny Carson
- O projeto MK Ultra para controlar mentes realmente existiu. A MUNDO ESTRANHO já falou a respeito
- Chapman de fato era obcecado por O Apanhador no Campo de Centeio. Ele chegou a assinar uma carta como “The Catcher in the Rye” (título original da obra)
FONTES Livro Who Killed John Lennon, de Fenton Bresler; O Estado de S.Paulo, The Guardian e Rolling Stone