1. Grávida tem que ficar longe de gatos
MEIA VERDADE: O medo aqui está relacionado à toxoplasmose, doença causada por um protozoário que tem nos felinos seu hospedeiro definitivo: gatos contaminados transmitem o parasita por meio de suas fezes. A toxoplasmose costuma passar despercebida em pessoas não grávidas. No feto, porém, ela pode causar problemas graves, incluindo malformações. No entanto, para se contaminarem, os gatos precisam comer ratos ou pássaros que tenham cistos do toxoplasma em seus músculos. Ou seja, um animal que vive dentro de casa e só come ração dificilmente será contaminado. Mas, na dúvida, melhor passar a limpeza da caixinha de areia para outra pessoa.
2. O primeiro trimestre da gravidez é o mais delicado
VERDADE: É nesse período que ocorre a formação dos órgãos do feto. Ou seja, é quando há maior risco de ocorrerem doenças ligadas a alterações genéticas. Por isso, há um especial cuidado em se evitar medicações, bebidas, alguns exames de imagem e afins. De 10 a 15% das mulheres sofrem aborto espontâneo até a 12ª semana de gestação – decorrente, justamente, de malformações do embrião. Mas não confunda: esses eventos fazem parte do processo de seleção natural e nada têm a ver com hábitos como excesso de esforço ou atividade física, que está liberada também nessa fase da gestação.
3. Gestantes não devem usar cremes no rosto
MEIA VERDADE: Gestantes são desaconselhadas a usar cremes anti-idade simplesmente porque, uma vez que não se fazem testes com grávidas, não se sabe o efeito que determinados ativos podem ter sobre o feto.
Como na gestação há um aumento da vasodilatação periférica, ou seja, os vasos ficam mais dilatados que o normal, há uma tendência de que a pele absorva mais qualquer tipo de produto. E há ainda outro agravante: produtos cosméticos não seguem as determinações da Anvisa, tornando difícil o acesso à sua formulação completa. Não existe nada comprovado contra os creminhos, mas, na dúvida, os médicos acham por bem evitar.
4. Grávida deve evitar adoçante
MEIA VERDADE: Algumas pesquisas têm mostrado que, em grandes quantidades, o ciclamato de sódio, adoçante feito a partir de um derivado de petróleo, poderia causar danos ao feto. Mas, para isso, a gestante deveria ingerir o equivalente a dez latinhas de refrigerante diet por dia – algo essencialmente impossível. Na dúvida, a American Pregnancy Association considera o ciclamato inseguro. Assim, se você preza a silhueta, prefira todas as outras possibilidades de adoçante, que vão de aspartame a estévia – há menos dúvidas sobre a segurança deles.
5. Grávidas sentem mais calor
VERDADE: Durante a gestação, o metabolismo da mulher fica mais acelerado e a temperatura do corpo da gestante se eleva. Não muito, cerca de 0,5 oC, mas já o suficiente para sentir mais calor. No fim da gravidez, por conta do esforço para carregar a barriga, a sensação piora ainda mais.
6. Grávida não pode pintar o cabelo
MEIA VERDADE: Por trás dessa ordem está o receio de que a alguns componentes da tinta são tóxicos para o bebê. E é verdade que, em doses muito altas, eles aumentam o risco de malformação em experimentos realizados com roedores – e alguns estudos com humanos indicam um risco ligeiramente maior de câncer infantil.
O Congresso Americano de Obstetras e Ginecologistas libera a pintura de cabelo após o primeiro trimestre. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia é mais conservadora. Apesar de admitir que o risco não é comprovado, ela só recomenda o uso de tonalizantes ou tintura sem amônia.
7. Mulher grávida deve comer por dois
MITO: Quem já ficou grávida e seguiu esse conselho popular certamente viu que não é bem assim. Se você tem um peso normal (IMC entre 18,5 e 25, sendo o IMC seu peso em quilos dividido pelo quadrado de sua altura em metros), ao ficar grávida, poderá colocar na conta do bebê mais 300 calorias por dia. Dois copos de suco de laranja e já se foi sua cota extra. Seguindo essa recomendação, é mais fácil ficar dentro dos parâmetros de ganho de peso considerado adequado pelos médicos: o que, para mulheres com IMC entre 18,5 e 25, fica entre 11 e 16 kg. Isso não é só importante para a recuperação da sua boa forma após a gestação, mas também para a sua saúde e do bebê durante a gravidez. Mulheres que engordam muito têm maior risco de desenvolver hipertensão e diabete gestacional, além de complicações durante o parto. Mas também não é o momento de ficar neurótica ou fazer dieta: o ganho de peso durante a gestação faz parte de um processo fisiológico fundamental para o bom desenvolvimento do bebê.
8. Grávida não deve fazer ginástica
MITO: Atividade física é bem-vinda também durante a gestação. Claro que o tipo de atividade que você deve fazer depende do tipo de condicionamento físico que você já tinha quando engravidou – agora não é hora de começar a correr, por exemplo. Mas mulheres com uma gestação livre de intercorrências e habituadas a atividades físicas podem continuar com sua rotina, respeitando os limites que a gravidez, aos poucos, vai impor (e que você certamente vai sentir). Bom senso é a palavra-chave. Evite apenas aquelas atividades que oferecem risco de choque ou quedas. Também há evidências de que exercícios muito pesados, que elevam em mais de 90% os batimentos cardíacos, podem comprometer o fluxo de sangue para o bebê durante a atividade. Mas isso não é aplicável para a maioria das mortais.
9. Grávidas devem evitar banho quente de imersão
MEIA VERDADE: Alguns estudos sugerem que elevar a temperatura corporal acima de 38 oC no primeiro trimestre de gravidez pode aumentar o risco de malformação do feto. Isso vale para banheiras de água quente, ofurôs e atividades físicas como o hot yoga e o hot pilates. Mas, se a água da sua banheira estiver apenas morna, em torno dos 30 oC, não há com o que se preocupar.
10. Grávida não deve tomar café
MITO: Por conta de uma possível relação da cafeína com o aumento das chances de aborto, alguns guias médicos, como o americano Mayo Clinic Guide to a Healthy Pregnancy, e alguns obstetras simplesmente proíbem o consumo de café durante a gestação. Outros pegam bem mais leve e liberam algumas xícaras por dia.
“Muitos estudos sugerem que a ingestão de 150 mg por dia não cause problemas ao feto”, explica a bioquímica Rossana Soletti. “A contagem da cafeína consumida deve considerar todas as bebidas que a contém, como Coca e chás. Uma xícara grande de café passado tem cerca de 100 mg; um espresso curto, 65 mg.”
É mito!
O enjoo dos primeiros meses não é pior quando o feto é menina
Azia não tem nada a ver com bebê cabeludo
Barriga pontuda não indica menino, nem redonda, menina
Um risco muito escuro na barriga não é sinal de bebê moreno
Cerveja preta não aumenta a produção de leite
Nem sempre barriga grande pressupõe bebê grande. O mesmo vale para barrigas pequenas
Não há comprovação sobre a influência da Lua nos nascimentos (apesar de muitos profissionais de saúde jurarem que o número de partos aumenta nas viradas da Lua)
11. Grávida não pode beber (nadinha de) álcool
VERDADE: Não há dose de álcool considerada segura durante a gestação. As federações internacionais e a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) endossam que durante a gravidez o consumo de álcool deve ser zerado. “Existem inúmeros estudos mostrando efeitos negativos do consumo de álcool, mesmo que em doses pequenas”, diz Soletti. “O metabolismo individual é muito importante: como cada pessoa processa o álcool de um jeito, não dá para garantir qual seria a dose isenta de riscos.”
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12. Grávida não pode fumar
VERDADE: Aqui não há polêmicas. Assim como é provado que o cigarro faz mal a qualquer ser humano, também é certo que fumar, mesmo pouco, não faz bem para o feto. O cigarro aumenta os riscos de parto prematuro, problemas com a placenta e bebês de baixo peso. Além disso, os bebês também correm mais risco de morte súbita (86% das mortes súbitas de bebês no Reino Unido são de filhos de mães fumantes). O porquê de o cigarro fazer tão mal ao feto não é claro, mas deve estar relacionado à nicotina e ao monóxido de carbono, que atrapalham a oxigenação do feto e podem trazer danos à placenta. E mais: fumantes passivas também têm risco maior de terem bebês com baixo peso.
13. Grávida não pode andar de avião
MITO: Em mulheres saudáveis e em gestações sem riscos, não há evidências de que as mudanças na pressão ou na umidade do ar, bem como o aumento da radiação, tenham efeito nocivo sobre a gestante ou o seu bebê. Apesar disso, é fato que mulheres grávidas podem sentir mais desconforto em viagens longas de avião, já que têm mais tendência a ficarem nauseadas, com as pernas inchadas e com o nariz e ouvidos tampados. Como durante a gravidez há mais risco de se desenvolver trombose venosa, causada por coágulos que podem alcançar os pulmões, dependendo do estágio da gravidez e da condição de saúde da mulher, o obstetra pode recomendar o uso de meias de compressão ou mesmo contraindicar voos muito longos. No período final de gestação, o parto pode ocorrer a qualquer momento. Como ninguém sonha parir dentro de uma aeronave, é mais prudente evitar viagens de avião depois das 37 semanas de gestação.
14. Grávida não pode fazer sexo
MITO: Se tudo vai bem com sua gravidez, o sexo está liberado em qualquer fase da gestação, desde que, é claro, você esteja com vontade. Fisiologicamente, não existem motivos para se preocupar. O bebê fica fechado dentro do útero, imerso em uma bolsa de água e protegido por um colo do útero bem fechadinho. Ou seja, o sexo não vai incomodá-lo ou machucá-lo. No máximo, será preciso um pouco mais de criatividade nas posições conforme a gravidez avança e a barriga começa a dificultar o processo. Mas, se você está a fim, vá tranquila.
15. A gravidez facilita o orgasmo
VERDADE: Fazer sexo pode ser toda uma nova experiência na gestação. Isso porque, durante a gravidez, a lubrificação da vagina aumenta, assim como o volume de sangue do organismo, e isso deixa o corpo mais sensível à excitação. Ou seja, é mesmo mais fácil atingir orgasmos quando se está grávida, e eles podem ser até mais intensos do que fora desse período. O bebê não saberá de nada que se passa e ainda poderá se beneficiar com isso: é que o aumento da vascularização e a liberação de endorfinas também são, possivelmente, prazerosos para o feto.
16. Sexo induz o trabalho de parto
MITO: Estamos falando de mulheres loucas para pôr fim no desconforto das últimas semanas de gravidez. Há uma razão para acreditar que sexo nesse período pode ajudar a desencadear o trabalho de parto: o sêmen contém substâncias que favorecem a dilatação do colo do útero. Mas, na prática, não é tão fácil: nunca se provou a eficiência desse método de autoindução do parto. Aliás, nenhum dos métodos populares – pimenta, chás ou mesmo acupuntura – parecem funcionar de fato. Mas, no desespero, siga em frente: mal não vai fazer.
17. Grávidas não podem tomar antibióticos
MEIA VERDADE: O bebê se conecta à mãe por meio da placenta e é também através desse órgão que a mãe transfere nutrientes para o feto. Portanto, o bebê será exposto a pelo menos um pouco de quase tudo o que a mãe ingere, com poucas exceções. Isso pode ser um problema, mas também pode não ser. É difícil saber ao certo, mas existem evidências científicas bem aceitas. Muitos antibióticos são considerados sem risco para o feto. Outros são comprovadamente perigosos. Por isso, antes de tomar qualquer medicação, é importante falar com o médico. Ele vai saber avaliar o risco e o benefício de cada caso e poderá indicar o medicamento que resolva seu problema sem prejudicar o bebê.
Pode ou não pode comer…
As preocupações relacionadas à comida têm a ver com o risco de contaminação dos alimentos. Algumas são exageros, outras não
VERDURAS E FRUTAS FORA DE CASA: No caso de frutas e verduras, a orientação é válida. Aqui o risco é de o alimento estar contaminado com toxoplasma, um protozoário que tem nos felinos seu hospedeiro definitivo. Gatos contaminados excretam oocitos em suas fezes, que podem contaminar a terra onde são plantados os alimentos. Como a toxoplasmose é uma doença grave para o feto, recomenda-se que gestantes não mexam em terra e só comam frutas e verduras cruas quando tiverem certeza de que estão muito bem lavadas.
CARNE CRUA: Novamente a preocupação com a toxoplasmose. É que animais (porco, frango, boi…) que ingerem terra contaminada desenvolvem cistos capazes de transmitir o parasita para o homem, caso ele consuma sua carne crua ou malpassada. Essa é uma das formas mais comuns de transmissão do Toxoplasma gondii. Importante: quem já entrou em contato com o toxoplasma uma vez na vida desenvolve anticorpos e não se contamina mais.
PEIXE CRU: Aqui a história é diferente. Peixes não se contaminam com o toxoplasma. A preocupação em ingerir peixe cru está relacionada ao cuidado com a salmonela e E. coli, duas causas muito comuns de infecções gastrointestinais. O risco existe sempre que você consome verduras mal lavadas ou almoça em restaurantes de higiene duvidosa. Mas grávidas não são especialmente mais suscetíveis a essas infecções, e os parasitas não atacam diretamente o feto. Ou seja, a recomendação vale para todos: só coma peixe cru em lugares confiáveis, que sirvam peixe fresco.
FRIOS E EMBUTIDOS: Essa orientação está relacionada à listeria, uma bactéria que causa uma infecção grave. Na gravidez a preocupação é maior porque gestantes são mais suscetíveis à doença: cerca de um terço das infecções por listeria ocorre em mulheres grávidas. Essas infecções não são tão comuns, mas suas consequências são bem mais graves tanto na gestação quanto no pós -parto. O lance é que a listeria pode se proliferar em quase todo tipo de alimento, de frutas a carnes, e ainda se reproduz muito bem na geladeira. Por isso, mais efetivo que eliminar os frios da sua alimentação, é tomar cuidado com itens fora da validade, comprar produtos de lugares confiáveis, estocá-los da maneira correta e evitar alimentos guardados por muito tempo na geladeira.
QUALQUER TIPO DE QUEIJO: Outra proibição relacionada ao receio de contaminação por listeria. Já se sabe que esse tipo de bactéria pode contaminar toda sorte de alimentos e, ainda por cima, não há dados no Brasil que especifiquem e controlem a contaminação dos produtos por listeria. O Centro Americano de Controle e Prevenção de Doenças, no entanto, constatou que 17% dos surtos de infecção alimentar comprovadamente provocados por listeria entre 1998 e 2008 envolviam o consumo de queijo fresco. Por conta disso, muitos médicos recomendam a não ingestão de queijo e leite não pasteurizado durante a gestação. Apenas eles.
Fontes: Expecting Better: Why the Conventional Pregnancy Wisdom is Wrong and What You Really Need to Know, Emily Oster, Orion, Olímpio Barbosa de Moraes Filho, presidente da Comissão de Assistência Pré-Natal da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia).