18% dos brasileiros têm predisposição genética que aumenta risco de doenças cardíacas
Estudo com mais de 115 mil pacientes analisou os níveis da lipoproteína (a), que pode ser fator de risco para doenças cardiovasculares.
No rol de vilões mais famosos da saúde está o colesterol, responsável por elevar riscos de doenças cardíacas. Mas você já deve saber que nem todo colesterol é vilão: essa gordura é essencial para o corpo humano. Sua versão “boa”, o HDL, ajuda a remover dos vasos sanguíneos o colesterol “ruim” LDL, responsável por entupir as artérias.
Só que o colesterol não é o único responsável pelos problemas cardíacos. Outro fator importante a se considerar é a lipoproteína (a), também conhecida como Lp(a) (os especialistas chamam de “LPazinha”). Essa partícula faz o transporte do colesterol pelo sangue e se parece bastante com a lipoproteína de baixa densidade (LDL), o famoso colesterol ruim.
A estrutura molecular da Lp(a) pode aumentar o risco de doenças cardiovasculares, como infartos, tromboses e acidentes vasculares cerebrais (AVC). Em pessoas com níveis elevados, essa lipoproteína se acumula nas artérias e aumenta a inflamação dos vasos sanguíneos até formar placas e coágulos. Isso aumenta os riscos cardiovasculares mesmo para pessoas que tem bons níveis de HDL e LDL.
Um novo estudo estima que 18% da população tem uma predisposição genética que gera níveis alterados de Lp(a), aumentando o risco de doenças cardíacas. A pesquisa foi feita pela empresa de medicina diagnóstica Dasa e a farmacêutica Novartis
Os pesquisadores usaram os dados de amostras de sangue de 115.197 pacientes dos laboratórios da Dasa, com exames coletados entre 2016 e 2019, para analisar os dados de Lp(a) da população. O estudo, publicado na PLOS One, é o mais extenso já realizado sobre o assunto no Brasil.
Descobrindo os riscos reais
Quando seu colesterol ruim está elevado, isso provavelmente significa algum problema na dieta ou excesso de peso. Porém, às vezes a culpa é da genética ou do uso de medicamentos corticoides. No caso do acúmulo de Lp(a), a culpa é quase sempre dos genes.
“[Os níveis da Lp(a)] são fixados pela herança genética de cada indivíduo”, explica Maria Helane Gurgel Castelo, diretora de análises clínicas da Dasa e uma das autoras do estudo. O valor da lipoproteína não muda com o tempo, por isso é possível fazer a dosagem só uma vez na vida.
“Isso significa que pessoas com predisposição genética podem apresentar níveis elevados dessa substância independentemente de hábitos de vida saudáveis”, explica Victor Gadelha, superintendente médico de pesquisa, ensino e inovação da Dasa.
Ou seja: fatores externos ou ambientais, como alimentação e atividade física, não têm influência significativa nos níveis da lipoproteína (a). O aumento de Lp(a) não é resolvido da mesma forma que se resolveria um problema de colesterol ruim, cortando alguns alimentos e fazendo mais exercício.
Esse estudo mostra que a predisposição genética aos níveis altos de Lp(a) é bem mais comum do que se imaginava. Cerca de 18% dos mais de 115 mil pacientes apresentaram níveis elevados de lipoproteína (a), acima de 50 mg/dL, o que já os posiciona na faixa de alto risco cardiovascular.
61% dos participantes do estudo eram mulheres, com níveis médios de Lp(a) um pouco maiores que os dos homens. A mediana (número bem no meio de um conjunto de dados) das idades dos participantes é de 44 anos.
Alguns anos atrás, a Lp(a) não era vista como um biomarcador muito importante na avaliação de riscos cardiovasculares. Diretrizes europeias e estudos recentes têm reforçado a importância de dosar o nível da lipoproteína pelo menos uma vez na vida, mas no Brasil isso é complicado: o exame de sangue para descobrir se o paciente tem níveis elevados da substância não está incluído no Sistema Único de Saúde (SUS) e muitas vezes nem entra na cobertura de planos de saúde privados.
Por enquanto, ainda não existem medicamentos no mercado para a diminuição efetiva desses níveis altos da lipoproteína (a). Os médicos podem mudar as estratégias de prevenção adotadas, focando em ações direcionadas para os fatores de risco controláveis, como hipertensão, obesidade e nível de LDL.
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