Uma pesquisa publicada na revista The Lancet estima que, nos próximos seis meses, mais de 1 milhão de gestantes e crianças de até cinco anos podem morrer em decorrência dos impactos no setor de saúde causados pelo novo coronavírus. O estudo foi feito por pesquisadores da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, com base em dados anteriores da Unicef sobre 118 países de baixa e média renda.
Esses óbitos se encaixam na categoria de “mortes evitáveis”, ou seja, poderiam não ocorrer se os cuidados rotineiros com a saúde e alimentação seguissem normalmente. Os pesquisadores tomaram como objeto de análise o planejamento familiar, atendimento pré e pós-natal, condições de parto, vacinação infantil e acesso a atendimentos médicos. Além disso, consideraram a diminuição do acesso à alimentação, que pode ocasionar desnutrição infantil.
As mortes para os menores de cinco anos seriam somadas às 2,5 milhões que já ocorrem semestralmente pelo mundo. Sacha Deshmukh, diretora executiva da Unicef no Reino Unido, disse em comunicado que “esta pandemia está tendo consequências de longo alcance para todos nós, mas é sem dúvidas a maior e mais urgente crise global que as crianças enfrentam desde a Segunda Guerra Mundial”.
O fechamento de fronteiras também se tornou questão de saúde pública. Em entrevista ao Guardian, Tanya Chapuisat, representante da Unicef Jordânia, conta que há cerca de dez mil sírios na fronteira Jordânia-Síria sem acesso a serviços médicos desde que a fronteira foi fechada, seis semanas atrás. Mulheres que deveriam ter feito parto cesárea não conseguiram e as crianças estão sem receber vacinação.
Além do fechamento de fronteiras, o acesso aos tratamentos pode ser impedido devido ao colapso no sistema de saúde e escolhas das próprias mães de se manterem longe dos hospitais devido aos riscos de contaminação. Além disso, a falta de recursos econômicos também dificulta o acesso a alimentação nesse cenário. A morte de gestantes é relacionada também a queda da administração de uterotônicos (agentes farmacológicos usados para induzir contrações uterinas), antibióticos e anticonvulsivos, além da falta de higiene nas salas de parto.
No estudo, foram construídos três cenários. No menos grave, com redução de 9,8% a 18,5% do acesso à saúde, haveria mais de 253 mil mortes infantis e cerca de 12 mil mortes maternas em seis meses. Já no pior cenário, com redução do acesso à saúde entre 39,3% e 51,9%, haveria cerca de 1,1 milhão de mortes infantis e mais de 56 mil mortes maternas. Isso representa um aumento de 9,8% a 44,7% nas mortes de crianças e de 8,3% a 38,6% nas mortes maternas por mês nos 118 países analisados.
O Brasil está entre os dez países com maior risco de alta nos óbitos infantis, junto a Bangladesh, República Democrática do Congo, Etiópia, Índia, Indonésia, Nigéria, Paquistão, Uganda e República Unida da Tanzânia.
A Unicef lançou a campanha #GenerationCovid. O dinheiro arrecadado será revertido em equipamentos de proteção para médicos da linha de frente, serviços de educação e proteção infantil, instalações de água e sabão, apoio a saúde para comunidades vulneráveis e também campanhas informativas para essas. Para saber mais, confira clicando aqui.