Existe um ditado popular em inglês, com mais de 200 anos de idade, que diz “alimente um resfriado, e mate uma febre de fome”. Se levada ao limite, a ideia pode ser perigosa (afinal, seu corpo precisa de energia para combater qualquer tipo de doença), mas existe um fundo de verdade nessa sabedoria de vovó.
Uma nova pesquisa da Universidade Yale mostra que doença causadas por vírus exigem uma dieta totalmente diferente de uma infecção bacteriana se você quiser ajudar o seu sistema imunológico a funcionar da melhor forma possível.
Alimentando o resfriado com açúcar
Quando o corpo detecta uma invasão, ele reage com uma resposta inflamatória, sinal de que seu sistema imunológico vai começar a atuar com força total. No estudo, os pesquisadores ativaram a resposta inflamatória típica de uma doença causada por vírus – como o resfriado comum ou a gripe – em um grupo de ratinhos.
Só que, enquanto mata as células da doença, a inflamação também pode prejudicar nosso próprio corpo – tanto que a maioria dos sintomas da gripe são causados pelo sistema imunológico, como a febre.
Os cientistas dividiram os ratinhos gripados em dois grupos: um deles tinha acesso a açúcar (a famosa glicose) e o outro não. Todos os ratos perdiam o apetite assim que ficavam doentes, mas logo voltavam a sentir fome… E o grupo que não tinha acesso a glicose morria.
E não morria de qualquer jeito: a resposta antiviral do próprio corpo acabava afetando o cérebro dos ratinhos e levando ao óbito. Já os ratinhos com acesso ao açúcar se recuperaram tranquilamente, o que levou os cientistas a concluir que, em doenças virais, a glicose tem um efeito de proteção cerebral.
Ponto para a sabedoria popular: vale a pena sim alimentar o resfriado.
Matando a bactéria de fome
A parte de “fazer a febre passar fome” já não está tão certa assim – já que uma doença viral também pode vir com febre – mas o conselho pode valer para as doenças bacterianas.
Os pesquisadores repetiram o experimento, só que, dessa vez, ativaram respostas inflamatórias típicas de combate às bactérias.
De novo, alguns ratos tinham acesso a açúcar e outros não. Mas dessa vez, quem se deu bem foi o grupo que fez jejum de carboidratos. Os ratos que ficaram sem glicose obrigavam o corpo a produzir energia a partir de gorduras. O resultado desse processo é o aumento da concentração de cetonas no corpo – por isso a dieta sem carboidratos, tipo a Dukan, é chamada de dieta cetogênica.
Os ratos que comiam açúcar não tinham o metabolismo cetogênico – e sofreram danos neurológicos que levaram à morte. Ou seja, foi o contrário da gripe: na infecção bacteriana, o efeito protetor do cérebro vinha da falta de açúcar.
Uma possível explicação é que o açúcar, quando é digerido, produz radicais livres altamente reativos. A inflamação bacteriana (ao contrário da viral), também. Daí a soma de tanto radical livre teria sobrecarregado o sistema e afetado o cérebro.
Por enquanto, os resultados da pesquisa feita com ratos são só bons indícios de como a glicose (ou a falta dela) afeta o corpo humano no caso de doenças virais e bacterianas. Segundo a revista New Scientist, o próximo passo dos cientistas é testar o método de dar açúcar para o vírus e cortar o carboidrato da bactéria em casos de infecção generalizada, na esperança de conseguir aumentar o índice de sobrevivência dos pacientes.
É bom lembrar que mudar a dieta não dispensa o tratamento normal nem o acompanhamento das doenças, seja qual for a causa – e, de novo, não custa seguir os conselhos a vovó: leve um casaquinho. Nao vai adiantar nada contra gripes e resfriados, mas frio você nao passa!