Black Friday: assine a partir de 1,00/semana
Continua após publicidade

China não conta casos assintomáticos de coronavírus. E isso é um problema

Críticos afirmam que a falta de transparência prejudica previsões sobre espalhamento da doença. Mas há quem defenda que medida faz sentido.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 25 mar 2020, 12h13 - Publicado em 20 fev 2020, 19h04
  • Seguir materia Seguindo materia
  • O governo chinês assumiu uma posição polêmica no combate ao surto da covid-19, a doença causada por um novo coronavírus que surgiu no país no final do ano passado e vem se espalhando rapidamente. Segundo informações da revista científica Nature, o total de casos contabilizado pela China não está incluindo pessoas infectadas pelo vírus que não apresentem sintomas. A decisão é questionada por pesquisadores, que afirmam que as omissões prejudicam pesquisas e previsões sobre a epidemia. Mas é defendida pelo governo e alguns especialistas em saúde pública como uma forma de otimizar o controle da crise.

    O impasse veio à tona quando, no começo do fevereiro, autoridades da província de Heilongjiang, no norte da China, anunciaram que a retirada do nome de 13 pacientes da lista de casos confirmados de covid-19 porque eles não apresentavam sintomas – mesmo com seus testes dando positivo. A equipe afirmou estar seguindo as diretrizes estabelecidas pela Comissão Nacional de Saúde da China, o órgão do governo central que vem gerenciando os dados sobre a epidemia.

    Em entrevista à Nature, Wu Zunyou, epidemiologista chefe da Comissão Nacional de Saúde confirmou que essa orientação já é estabelecida pelo país desde o fim de janeiro, quando as novas diretrizes foram publicadas. Segundo o documento, há duas classificações: “casos positivos” e “casos confirmados”. Se uma pessoa tiver o vírus detectado por testes mas não apresentar sintomas, ela é considerada um “caso positivo” e é colocada sob quarentena por 14 dias. Se nesse tempo ela desenvolver os sintomas, vai para o grupo de casos confirmados.

    São apenas os casos confirmados que são divulgados pela China em seus relatórios, e não os positivos. 

    Zunyo explica que a diferenciação é necessária porque um resultado positivo no teste não necessariamente significa que a pessoa está doente, apenas que está carregando o vírus. Funciona assim: os testes são feitos a partir de amostras retiradas da garganta ou do nariz dos pacientes. Uma pessoa pode ter o vírus nessas células, e portanto vai ter resultado positivo; mas, para ficar doente, é necessário que o vírus entre em várias células e comece a se replicar. Se isso não acontecer, a pessoa não tem sintomas, mas apenas “carrega” o vírus. Considerá-la doente ou não é um debate.

    Continua após a publicidade

    Mas outros especialistas ouvidos pela Nature discordam dessa classificação, argumentando que, para o resultado detectar o coronavírus, seus níveis devem estar altos – o suficiente para se classificar como uma doença, mesmo que não haja sintomas.

    Os críticos também afirmam que omitir informações sobre infectados prejudicam pesquisas e, principalmente, as previsões sobre o espalhamento do vírus, o que também diminui a credibilidade e a confiança no governo da China e em seus métodos para gerenciar a crise.

    Mas alguns especialistas também defendem que a medida faz certo sentido. Tarik Jašarević, porta-voz da Organização Mundial da Saúde, disse que focar nas pessoas que apresentam sintomas é válido, já que são elas que parecem estar transmitindo o vírus para outros.

    Continua após a publicidade

    (Aqui, vale um adendo: ainda não se sabe com 100% de certeza se o vírus é transmitido ou não a partir de pessoas assintomáticas. Há algumas evidências de que isso pode sim acontecer, mas, na enorme maioria dos casos, a doença parece passar apenas quando há sintomas no paciente).

    É coerente que os esforços e os recursos acabem se voltando mais para quem apresenta sintomas – afinal, são eles que precisam de tratamento. Dessa forma, o governo chinês estaria priorizando os esforços para ajudar os infectados em prol de ter rastrear a doença de forma totalmente precisa. 

    Não é a primeira vez em que decisões da China em relação à covid-19 são questionadas. Em 7 de fevereiro, a Comissão Nacional de Saúde mudou as diretrizes para se confirmar um caso da doença. Antes, era necessário um teste para identificar o RNA do coronavírus na pessoa. Com a mudança, bastava ter sintomas e exames de imagem dos pulmões para ser considerado um caso confirmado – a ideia era agilizar a detecção e isolar logo os doentes. Além de ser um método bem menos preciso, o novo critério aumentou em 15 mil os casos confirmados na província de Hubei, epicentro da crise, em apenas um dia. Isso causou pânico desnecessário, argumentam críticos, porque ficou parecendo que a doença havia aumentado rapidamente, quando na verdade eram os diagnósticos de pessoas já infectadas que saíram de uma vez só.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY
    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês

    ou
    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 10,99/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.