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Cientistas conseguem ‘apagar’ medo no cérebro

Pesquisadores chineses foram capazes de ligar e desligar o caminho neurológico do medo em ratos de laboratório.

Por Helô D'Angelo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h59 - Publicado em 6 set 2016, 18h45
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  • Sentir medo pode até ser importante, evolutivamente falando. Mas quem não gostaria de poder deletar experiências traumáticas, fobias paralisantes ou mesmo aquele medinho chato de barata? Pois é justamente nisso que está trabalhando um time de cientistas da Academia Chinesa de Ciências: uma forma de “apagar” o caminho neurológico do medo no cérebro. E eles já conseguiram – pelo menos em ratos de laboratório.

    Para realizar a proeza, primeiro os pesquisadores tiveram que criar um pavor específico nas cobaias: a aversão a um som agudo, que era tocado ao mesmo tempo em que os ratinhos levavam um choque. Depois de algum tempo disso, os ratos desenvolveram tanto medo do som que paralisavam toda vez que ele tocava. 

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    Feito isso, os cientistas observaram, por um microscópio super potente, os cérebros das cobaias – e repararam que, nos animais traumatizados pelo barulho, algumas sinapses (as conexões entre os neurônios) se fortaleciam, formando uma espécie de novo “caminho” neurológico, que não existia antes do temor ser fabricado. 

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    Isso, em si, não é inovador – a ciência já entende o medo como uma estrada em linha reta: quando passamos por uma situação de risco, o estímulo vai direto do tálamo (o “radar” que colhe informações ao nosso redor) para a amígdala (que reconhece o perigo e alerta o corpo). 

    A novidade descoberta pelos chineses é que essa linha reta não é a única. Na verdade, há dois desses caminhos neurológicos – esse do tálamo para a amígdala e outro da amígdala para o córtex – a superfície cerebral. Ou seja: para que a gente realmente sinta medo, não basta só perceber a coisa que dá medo (que é a função do caminho tálamo-amígdala), mas soar o alarme que diz “tenha medo” (tarefa do segundo caminho).

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    Sabendo disso, os cientistas pensaram: e se desse para apagar esse caminho da amígdala ao córtex? 

    Foi o que fizeram, com dois métodos diferentes: em um deles, usaram luz para cortar as conexões entre os neurônios – uma técnica chamada optogenética. Em outro, colocaram um vírus contendo uma barreira que impedia os neurônios de se comunicarem. Nos dois casos, o caminho da amígdala para o córtex foi interrompido – e os ratos perderam completamente o medo do som.

    Por enquanto, os pesquisadores só conseguiram apagar o segundo caminho, que é formado em uma parte mais superficial do cérebro – e ainda não foram capazes de cancelar um medo mais profundo, como o pavor natural que os bichinhos sentem dos gatos, por exemplo. O apagamento também não foi definitivo, uma vez que a memória do medo (ou seja, o primeiro caminho) ainda é inalcançável. Então, o próximo passo é pensar em estratégias para conseguir apagar o pavor para sempre – e quem sabe até memórias desagradáveis, ao estilo do filme Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças.

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