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Entenda a crise dos protetores solares da Austrália

O país, que conta com as maiores taxas de câncer de pele do mundo, descobriu que produtos continham bem menos FPS do que anunciado nas embalagens

Por Manuela Mourão
20 set 2025, 12h00

A Austrália, país com as maiores taxas de câncer de pele no mundo, enfrenta uma crise de confiança em relação ao produto considerado sua principal linha de defesa contra o sol: o protetor solar. 

O estopim veio em junho, quando a entidade de defesa do consumidor, Choice, divulgou um estudo conduzido em laboratório: 16 de 20 protetores solares testados não alcançaram o fator de proteção solar (FPS) prometido no rótulo. Em um caso emblemático, o Lean Screen SPF 50+, da marca australiana Ultra Violette, mostrou eficácia próxima a apenas FPS 4. O resultado foi tão surpreendente que a própria Choice mandou repetir o teste, chegando à mesma conclusão.

A marca inicialmente reagiu defendendo o produto, que era vendido em quase 30 países e custava mais de A$ 50 por frasco (aproximadamente R$ 176). Mas, menos de dois meses depois, anunciou que o Lean Screen seria recolhido, citando resultados inconsistentes em oito rodadas diferentes de testes. Em comunicado publicado no Instagram, a empresa pediu desculpas, encerrou a parceria com o laboratório responsável e prometeu rever seus processos de controle de qualidade.

A revelação provocou reação imediata. Houve uma onda de protestos de consumidores, múltiplos produtos foram retirados das prateleiras, e a Therapeutic Goods Administration (TGA), agência reguladora de medicamentos, abriu investigação. 

Marcas globais como Neutrogena, Banana Boat, Bondi Sands e até a Cancer Council contestaram os resultados, afirmando que seus testes internos comprovam a eficácia – mesmo que os testes da TGA tenham afirmado o contrário. Ainda assim, a pressão pública levou empresas a recolher ou “pausar” linhas inteiras de protetores, em um sinal de fragilidade da confiança do consumidor.

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O episódio também levantou questões mais amplas sobre a regulação global do setor. Enquanto na Europa os protetores são classificados como cosméticos, na Austrália eles são tratados como medicamentos, o que teoricamente garantiria padrões mais rigorosos. 

Segundo as regras da Anvisa, alguns cosméticos podem ser apenas notificados à agência, ou seja, não precisam ser registrados (é o caso dos desodorantes, por exemplo). Estes produtos são enquadrados na categoria grau 1, pois têm propriedades consideradas básicas.

Os protetores solares não se enquadram nessa categoria: eles sobem um nível, são produtos de grau 2. Ou seja, possuem indicações específicas e precisam ser registrados pela agência antes da venda. O registro envolve a análise e liberação do produto.

A Austrália é ainda mais cuidadosa, e regula os protetores solares como medicamentos. Então, como essa falha passou?

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Vamos começar do começo: a efetividade de um protetor solar é medida pelo fator de proteção solar (FPS), que calcula quanto de radiação UVB consegue ser filtrada pela barreira da pele criada pelo creme. Um FPS 50, por exemplo, quer dizer que só 1/50 da radiação solar é absorvida pela pele.

Esse número é calculado em laboratório, com voluntários de peles claras (uma vez que peles escuras possuem uma barreira extra contra a radiação, a melanina). Os indivíduos passam a substância em uma parte da pele e deixam outra desprotegida. Depois, são expostos a diferentes doses de radiação ultravioleta.

Assim, os cientistas conseguem calcular as doses mínimas de UVB necessárias para deixar ambas as partes vermelhas e definir o quão resistente o creme pode ser contra os raios. A Super já explicou mais sobre este assunto aqui.

Uma investigação da Australian Broadcasting Corporation revelou que metade dos protetores que falharam nos testes da Choice haviam sido certificados anteriormente por um laboratório norte-americano conhecido por registrar resultados inflados. Também foi identificado que vários produtos retirados do mercado compartilhavam fórmulas semelhantes, produzidas por um fabricante no estado da Austrália Ocidental. 

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A TGA afirmou que revisa os protocolos de testes de FPS, reconhecendo que eles podem ser subjetivos, mas reforçou que a responsabilidade final pela conformidade é das próprias empresas.

A questão se ampliou para além das fronteiras australianas. Como muitas marcas utilizam fabricantes e laboratórios comuns em diferentes mercados, especialistas apontam que falhas semelhantes podem estar presentes em protetores vendidos na Europa, Ásia e Américas. 

“Definitivamente não é um problema isolado”, disse a química cosmética Michelle Wong à BBC, ressaltando que os mesmos laboratórios e fabricantes atendem mercados de vários continentes. A crise, segundo especialistas, pode ser apenas a ponta do iceberg de uma falha regulatória global.

Especialistas lembram que o teste de FPS é, por natureza, complexo e sujeito a variabilidade – desde diferenças no tipo de pele dos voluntários até fatores tão banais quanto a cor das paredes do laboratório e como são usados: suor, água ou maquiagem, por exemplo, interferem nos resultados dos produtos. Isso abre espaço para erros, inconsistências e até fraudes. 

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Reguladores australianos agora estudam rever protocolos de testes, historicamente baseados em pequenos grupos de voluntários e suscetíveis a variáveis ambientais que distorcem resultados. Mas a discussão já alcançou esferas mais amplas, envolvendo políticos, associações médicas e órgãos internacionais. 

No entanto, o consenso médico permanece: o uso diário de protetor solar é indispensável, mas deve ser combinado com medidas adicionais como roupas de proteção, busca por sombra e reaplicação frequente. 

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