No Brasil, cerca de dez mil pessoas por ano são diagnosticadas com leucemia, um tipo de câncer que atinge as células do sangue, sendo que a maior parte dos casos não tem uma origem conhecida. A doença faz com que os glóbulos brancos, células de defesa do corpo, se multipliquem descontroladamente, perdendo sua função original e ocupando o espaço que poderia ser de células saudáveis na medula óssea. Agora, pesquisadores da USP estão testando uma nova molécula que pode parar a reprodução das células cancerosas.
Os cientistas do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) publicaram um estudo na revista Toxicology in Vitro apresentando um novo composto que conseguiu impedir o crescimento do número das células leucêmicas em laboratório, sem afetar as saudáveis.
A molécula sintetizada pelo grupo de pesquisadores, batizada de C2E1, é inédita. Ela age inibindo a tubulina, a proteína que constitui os microtúbulos – estruturas essenciais no processo de divisão das células, a mitose. Sem os microtúbulos, cuja função é distribuir o material genético para que uma célula vire duas, a reprodução celular desenfreada é evitada, impedindo assim o avanço da leucemia.
Fernando Coelho, professor titular do Instituto de Química da Unicamp, foi o líder do grupo de pesquisadores que sintetizou a C2E1, que depois foi testada em interação com a tubulina por uma equipe da USP encabeçada pelo doutorando Hugo Passos Vicari.
Quando vai estar disponível?
Os testes com a molécula C2E1 foram realizados in vitro, em células cultivadas no laboratório, e não direto em seres humanos. Os resultados foram promissores: 84% dos casos tiveram sucesso, eliminando as células cancerosas e impedindo sua multiplicação.
Testes também foram feitos para garantir que a molécula não seria tóxica para as células sanguíneas saudáveis. Com essa confirmação, o composto apresenta um potencial para ser um possível remédio para tratar a leucemia, com menos efeitos colaterais do que a quimioterapia, por exemplo.
Atualmente, a única cura possível para a leucemia é o transplante de medula óssea, que substitui as células do receptor pelas saudáveis do doador. A possibilidade de um novo fármaco para tratar leucemia é importante, especialmente, para as pessoas mais idosas acometidas pela doença, inelegíveis para o transplante.
Compostos que interagem com a tubulina já são usados para tratar câncer desde a década de 1940. Às vezes, os pacientes podem desenvolver resistência a esses medicamentos, por isso é interessante pensar em terapias que usem remédios diferentes, agindo por mecanismos distintos.
Um fator positivo da descoberta do C2E1 é sua facilidade de ser 100% fabricado em laboratório, sem depender de recursos naturais escassos como alguns outros medicamentos para leucemia.
Isso não quer dizer que você já vai poder encontrar o remédio no hospital nos próximos meses. Agora, começam as fases de testes em animais, para verificar se a molécula continua funcionando em sistemas complexos e não é tóxica para nenhum órgão. Depois disso, o composto vai ser avaliado em ensaios clínicos com humanos. Esses testes podem durar de quatro a oito anos e são essenciais para garantir a eficácia e segurança do tratamento. Ainda é um longo caminho, mas promissor.