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Pode haver uma segunda onda de Covid-19 após o fim da quarentena?

Sim, e para isso, é preciso estar preparado. A subnotificação de casos e o possível encontro com o inverno podem intensificar o surto.

Por Carolina Fioratti
22 abr 2020, 18h29
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  • A quarentena em decorrência do novo coronavírus foi instaurada no Brasil há cerca de um mês. Desde então, surgiram preocupações quanto à economia do país. O fechamento de fábricas, comércios e outras empresas leva ao desemprego e, consequente, a diminuição de renda das famílias não só aqui, mas em todo o globo. Por isso, a pressa para voltar às atividades é grande, mas o medo de uma nova onda da doença é ainda maior. 

    Quando falamos sobre a Covid-19, há mais dúvidas do que respostas. O vírus causador, SARS-CoV-2, é uma novidade, e por isso é tão difícil trazer previsões exatas. Mas, para tentar projetar, podemos usar epidemias passadas a fim de comparação. 

    O surto de gripe espanhola, enfrentado em 1918, foi dividido em três ondas. A primeira ocorreu em março de 1918, a segunda em agosto do mesmo ano e a terceira em fevereiro do ano seguinte. A onda mais violenta foi a segunda, em que o vírus causador (influenza) acabou sofrendo mutações, tornando a doença ainda mais mortal. Mas, por enquanto, não há evidências científicas de que o novo coronavírus possa também se tornar mais perigoso.

    Pensando em pandemias mais recentes, houve a causada pelo vírus H1N1 em 2009. Sua letalidade foi bem menor: cerca de 18 mil óbitos contra 50 milhões durante a gripe espanhola. A doença afetou a população em duas ondas diferentes, mas foi barrada após a criação de uma vacina. 

    Hoje, há um receio generalizado de que o número de casos de Covid-19 volte a aumentar rapidamente quando os países relaxarem suas medidas de controle. Singapura, por exemplo, adotou um forte método de rastreamento da doença, o que resultou em certa estabilização. Mas o problema voltou a crescer após trabalhadores imigrantes, que moravam amontoados em residências compartilhadas, contraírem o vírus. Isso mostra a capacidade da doença de se alastrar novamente em ambientes com aglomeração.

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    Enquanto isso, a China também enfrenta novos focos de casos. Apesar de a doença ter sido controlada na Província de Hubei, novos infectados surgiram ao norte, perto da fronteira com a Rússia. Também foi observada a transmissão local do vírus em Harbin, 2.200 km ao norte de Wuhan, e logo as autoridades chinesas voltaram a apertar os bloqueios, realizando testagens e exigindo quarentena.

    De toda forma, o Brasil enfrenta um problema ainda maior: a subnotificação. A testagem em massa não está sendo feita e muitos casos da doença só são registrados após a morte do infectado. Uma pesquisa feita pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS) estima que haja 12 vezes mais brasileiros infectados do que os números oficiais indicam. Isso equivaleria a, aproximadamente, 534 mil portadores do vírus no país.

    É preciso saber quantos indivíduos são suscetíveis a contrair o vírus e quantos já estão imunizados, para assim, determinar o tamanho do estrago de uma futura onda. Sem esses valores e sem vacina, que está prevista apenas para 2021, ficamos apenas com uma população vulnerável. Para que o vírus não afete de forma violenta uma população, cerca de 50% a 70% das pessoas devem estar imunizadas. Mas, mesmo no epicentro da doença, Wuhan, esse número é inferior a 10%.

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    Outra preocupação dos pesquisadores é o possível encontro de uma onda de Covid-19 com outras gripes comuns que surgem no inverno. Essa junção poderia causar a superlotação dos sistemas de saúde. Dessa forma, a falta de leitos, respiradores e materiais de proteção, que já se mostra uma realidade em diversos países, seria ainda mais grave.

    A recomendação do Ministério da Saúde é que todos fiquem em casa sempre que possível, mantenham a higienização das mãos e de produtos provenientes da rua e façam uso de máscaras ao sair de suas residências. 

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