Trabalhar na linha de frente da segurança pública tem efeitos diretos na forma como o corpo responde ao estresse, segundo um estudo da Universidade de Buffalo. A pesquisa avaliou os níveis de cortisol na saliva de policiais estressados – e notaram um padrão bem diferente (e mais prejudicial) que o normal.
Primeiro, eles dividiram os policiais entre muito estressados e pouco estressados. Para isso, tiveram que criar um “Índice de Estresse Policial” que também revelou um ranking dos eventos que policiais consideram mais perturbadores no dia a dia.
Eleita como a pior situação no trabalho foi ver uma criança seriamente agredida ou morta. Ficou na frente de tirar a vida de alguém e perder um colega em serviço.
Ranking de trauma
- Criança agredida ou sem vida
- Matar em serviço
- Ver colega ser morto em serviço
- Ter que usar a força contra alguém
- Ser atacado por alguém
A pesquisa, feita com 366 oficiais, também mostrou que policiais de Buffalo enfrentam umas dessas 5 situações mais de 2 vezes ao mês.
De acordo com a frequência com que viviam estas situações perturbadoras, eles foram divididos em três grupos, de baixa, média e alta exposição a estressores.
Hormônio descompensado
Depois, os pesquisadores avaliaram a quantidade de cortisol presente na saliva dos policiais logo depois de acordarem. O cortisol é conhecido como hormônio do estresse, porque seus níveis sobem quando estamos frente a uma situação ameaçadora. Mas ele regula várias outras funções no corpo, como os batimentos cardíacos, a pressão, algumas respostas imunológicas e até o nível de açúcar no sangue.
Quando você acorda, seus níveis de cortisol sobem, para dar aquele impulso de ânimo no início do dia. Um aumento acentuado acontece nos primeiros trinta minutos e os níveis continuam a crescer regularmente na primeira hora que você passa acordado.
Nos policiais com média e alta exposição a eventos traumáticos, esse gráfico era muito diferente da parábola normal. O cortisol teve um crescimento muito menor que o normal na primeira meia hora. Logo depois, já estava caindo. Nada do pico de ignição ao acordar.
Segundo um dos autores do estudo, essa é uma reação comum à exposição constante a estresse intenso. “O que acontece é que, para pessoas sob muito estresse, o cortisol para de se ajustar naturalmente e se estabiliza. Em alguns casos, ele fica muito baixo. Em outros, ele sobe e fica constantemente alto”, explica o pesquisador John Violanti.
Essa sobrecarga pode fatigar o mecanismo de produção do cortisol. É tanto estresse que o corpo simplesmente para de dar picos do hormônio – seria pico demais, o tempo inteiro. O problema é que o desequilíbrio é bastante prejudicial à saúde. Aumenta a chance de doença cardiovascular, atrapalha o sono e o sistema imunológico, causa hipoglicemia e até aquela sensação de lentidão mental e cérebro anuviado – todos extremamente arriscados para uma profissão que exige alerta constante.