A poluição do ar está custando caro aos países africanos. Segundo um novo estudo, ela foi responsável por 1,1 milhão de morte em 2019 – o que corresponde a 16,3% do total de óbitos no continente. Isso coloca a poluição como a segunda maior causa de morte na África, atrás somente da Aids.
Os cientistas apontam que, à medida que os países do continente se desenvolvem economicamente e as cidades se expandem, os impactos da poluição do ar tendem a aumentar. O estudo é considerado a avaliação mais abrangente da poluição do ar no continente africano até o momento. Ele foi liderado por pesquisadores do Boston College (Estados Unidos) e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).
Os cientistas analisaram as tendências da poluição do ar em 54 países africanos, mas dedicaram atenção especial a três países – Etiópia, Gana e Ruanda –, que encontram-se em pontos críticos de desenvolvimento econômico.
As mortes atribuíveis à poluição do ar resultam de infecções respiratórias, isquemia cardíaca, doença pulmonar obstrutiva crônica e acidente vascular cerebral. Além disso, a poluição pode causar lesões cerebrais em bebês e crianças pequenas, o que pode levar a declínios cognitivos.
Os cientistas indicam que 700 mil mortes de 2019 foram causadas por poluição do ar doméstico, enquanto 400 mil foram causadas pela poluição ambiente. A poluição doméstica é gerada pela utilização de combustíveis e tecnologias poluentes dentro das casas – como carvão e querosene usados em fogões.
Segundo o estudo, as doenças e mortes relacionadas à poluição do ar doméstico estão reduzindo – mesmo que de forma lenta e desigual entre os países africanos –, graças a iniciativas governamentais e não governamentais.
Enquanto isso, a poluição do ar ambiente (causada pela queima de combustíveis fósseis por automóveis e indústrias, por exemplo) está aumentando em todo o continente. Os cientistas apontam que essa tendência é mais evidente em Gana – que, dentre os três países analisados de perto, se destaca por seus avanços econômicos recentes.
Os pesquisadores também associaram as doenças e mortes ao gênero: 43% das mortes relacionadas à poluição do ar ambiente e 47% das mortes relacionadas à poluição do ar doméstico ocorrem em mulheres.
Além de prejudicar a saúde humana, a poluição representa custos econômicos aos países. Segundo o estudo, as mortes e doenças associadas à problemática representam uma perda de US $3 bilhões na Etiópia; US $1,6 bilhão em Gana e US $349 milhões em Ruanda.
“Os países africanos estão em uma posição única para superar os erros cometidos em outros lugares e alcançar a prosperidade sem poluição”, afirma Philip Landrigan, professor do Boston College, que liderou o estudo.
“Encorajamos os líderes da África a aproveitarem o fato de que seus países ainda estão relativamente no início de seu desenvolvimento econômico e a fazerem uma transição rápida para a energia eólica e solar, evitando o aprisionamento em economias baseadas em combustíveis fósseis”.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição atmosférica é uma das maiores ameaças ambientais à saúde humana, junto às mudanças climáticas, sendo responsável por cerca de sete milhões de mortes prematuras anualmente. Recentemente, a OMS endureceu indicadores de qualidade do ar – em uma tentativa de reforçar a pressão para que os tomadores de decisão ao redor do mundo enfrentem o problema.