O Congresso da Sociedade Europeia de Transplantes de Órgãos ocorreu na última semana, na Grécia. Os médicos e pesquisadores discutiram a escassez de órgãos e o número de pessoas que aguardam por um transplante. Uma das soluções para amenizar o problema é a possibilidade de transplantar rins de bebês que morrem no parto, mas que possuem órgãos saudáveis.
Procedimentos como esse ocorrem poucas vezes por ano em países como Reino Unido e Estados Unidos. Órgãos de recém-nascidos são obviamente menores comparados aos de adultos ou crianças – mas os rins, em específico, têm a capacidade de aumentar de tamanho quando transplantados.
Por serem muito pequenos, dois rins infantis servem como um: ambos são retirados do doador e colocados lado a lado no lugar de um dos rins do paciente. (Em doadores adultos, um rim já é suficiente para suprir outro). Três meses após o transplante, o par de rins recém-nascidos já cresceu e funciona bem como um órgão adulto.
O rim é o órgão com maior demanda para transplante do mundo – só no Brasil, existem mais de 36 mil pessoas na lista de espera do SUS. Isso porque o órgão só está apto para transplante caso o doador tenha morrido de algumas formas específicas, como derrame cerebral.
Bebês que morrem por asfixia durante o parto se enquadram nesse rol, assim como fetos diagnosticados com malformação severa, que não sobreviverão por muito tempo após o nascimento. Apesar da tragédia prematura, a vida da criança ainda pode ser usada para salvar outra.
Mas esse é um tema delicado e difícil de ser abordado. As equipes de hospitais geralmente não trazem essa opção aos pais que acabaram de perder o filho. Segundo Dai Nghiem, do Allegheny General Hospital de Pittsburgh (EUA), decidir pela doação pode ser especialmente difícil para pessoas que estão em luto.
Outra preocupação é que os rins de recém-nascidos sejam mais frágeis para o transplante em comparação a doadores adultos. Eles, de fato, estão mais vulneráveis a coágulos sanguíneos, o que pode levar à remoção do rim.
Um estudo publicado em 2018 avaliou o transplante de rins de recém-nascidos e bebês, comparando-os aos de doadores adultos. A longo prazo, os transplantes tiveram taxas de sucesso semelhantes, independente da idade do doador. Enquanto rins de doadores adultos tiveram 95% de sucesso após um ano do transplante, o de bebês e recém-nascidos fica em 90%.