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Sexo com virgens para curar aids

Eduardo Szklarz Erro – Acreditar que sexo com virgens pode curar a doença. Quem – milhares de africanos portadores do vírus HIV, sobretudo na África do Sul e na Tanzânia. Quando – principalmente a partir do fim da década de 1990. Consequências – aumento dramático do número de crianças estupradas. Continua após a publicidade A […]

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Atualizado em 31 out 2016, 18h35 - Publicado em 26 Maio 2012, 22h00
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  • Eduardo Szklarz

    Erro – Acreditar que sexo com virgens pode curar a doença.

    Quem – milhares de africanos portadores do vírus HIV, sobretudo na África do Sul e na Tanzânia.

    Quando – principalmente a partir do fim da década de 1990.

    Consequências – aumento dramático do número de crianças estupradas.

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    A África subsaariana – ou seja, abaixo do Saara – responde hoje por cerca de 70% dos casos de aids em todo o mundo. São aproximadamente 24 milhões de pessoas, nas contas da Organização Mundial de Saúde (OMS), que vivem com uma doença aterrorizante e sem cura, num continente dilacerado pela pobreza, por guerras civis e por uma educação deficitária – quando não, inexistente. Nem todos os africanos portadores da doença têm acesso aos remédios adequados. Quando têm, muitas vezes não sabem como usá-los. Não chega a surpreender, portanto, que tenha surgido nessa região – em especial na África do Sul e na Tanzânia – um dos mitos mais perniciosos da história: o de que seria possível eliminar o vírus HIV do próprio corpo mantendo relações sexuais com virgens.

    O auge dessa crença absurda parece ter ocorrido entre o fim da década de 1990 e o início dos anos 2000. No ano 2000, 67 mil casos de estupro de criança – incluindo tentativas frustradas – foram registrados na África do Sul. Dois anos antes, em 1998, tinham sido quase a metade: 37 500. Na média, mais de 180 crianças eram atacadas por dia no país. Ninguém sabia quantos desses crimes estavam relacionados ao mito das relações sexuais com virgens, mas tanto a comunidade científica quanto as autoridades públicas estavam certas quanto a uma coisa: ele tinha tudo a ver com o aumento das ocorrências.

    De lá para cá, campanhas de educação ajudaram a combater o problema. Mas o mito continua vivo. Em 2009, vários estupros de meninas com menos de 15 anos foram relacionados à crença da virgindade. E o número de estupros de crianças ocorridos na África do Sul não diminuiu depois de passados 10 anos. No ano passado, a polícia sul-africana registrou 21 mil casos. “Muitos ainda são devidos ao mito”, diz Kelly Hatfield, diretora do grupo Pessoas contra o Abuso de Mulheres (Powa, da sigla em inglês). Segundo Hatfield, há relatos até de curandeiros receitando estupro de virgens. E muitos criminosos, para ter certeza da virgindade, escolhem meninas cada vez mais novas – até bebês.

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    Problema sério

    Nem todo mundo concorda com a tese de que o mito de transar com virgens está por trás de parte dos casos de estupro infantil verificados na África. Alguns especialistas afirmam, por exemplo, que a incidência de aids é baixa entre as meninas estupradas – apenas 1%. Isso indicaria que os estupradores HIV positivo não seriam tantos. Mesmo assim, é fato que o mito existe e representa um problema sério de saúde pública, ainda distante de ser resolvido. 

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    Ideia antiga Não se sabe como a crença da cura pelo sexo com virgens se disseminou na África, mas tem-se certeza, pelo menos, de que o mito não é uma invenção africana. Durante a Renascença (do século 13 ao 17), muitos europeus acreditavam que transar com virgens podia curar outra doença sexualmente transmissível: a sífilis, quase tão terrivel naquela época quanto a aids é hoje.

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