A depressão como efeito colateral da pílula anticoncepcional motiva muitas mulheres a parar com os hormônios. O problema não é muito abordado e a associação acaba relegada a um aviso pequeno na bula – ainda algumas pesquisas afirmem que, a depender do tipo de método, o risco da mulher sofrer com depressão pode duplicar.
Aliás, como é que, biologicamente, uma coisa está ligada à outra? Um novo estudo focado em depressão e que, a princípio, nada tinha a ver com contracepção acabou esbarrando em um possível motivo.
Os neurocientistas da Universidade de Tulsa, EUA, queriam investigar a relação entre o sistema imunológico e a depressão. Quando há problemas no corpo, o sistema imune dá um alerta e o restante do corpo responde. Produzimos substâncias necessárias para combater ameaças no corpo, mas que podem deixar restos tóxicos pelo caminho. Os macrófagos, por exemplo, são glóbulos brancos que fagocitam essas ameaças. Só que acabam produzindo uma substância chamada ácido quinolínico (QN), que é tóxico para seus neurônios.
Seu cérebro está preparado para isso e, assim que o sistema imune dá o alerta, produz substâncias neuroprotetoras, para equilibrar a balança. Uma delas é o ácido quinurênico (KYN). Esses dois ácidos foram o foco da pesquisa dos cientistas de Tulsa.
A investigação dos pesquisadores mostrou que pacientes deprimidos tendem a ter a balança desequilibrada. A quantidade de KYN é bem mais baixa que o esperado em um ser humano saudável – então, provavelmente, o neurotóxico acaba “vencendo” e o cérebro sente o impacto. Para os pesquisadores, o metabolismo anormal do KYN pode ser um dos gatilhos biológicos para a depressão e as marcas físicas que ela deixa no cérebro.
Mas se isso vale para qualquer pessoa deprimida, a situação é pior para as mulheres. O estudo mostrou que as mulheres saudáveis já mostravam uma concentração menor de ácido neuroprotetor do que homens saudáveis.
Na realidade, o resultado mostrou que as mulheres saudáveis já tinham a redução que os pesquisadores costumavam vem em organismo de pessoas deprimidas. Ou seja, seu cérebro estava naturalmente mais exposto aos efeitos negativos dos metabólitos tóxicos. Até aí, os cientistas teorizam que as evidências podem indicar porque duas vezes mais mulheres sofrem de depressão do que homens.
Mas eles fizeram mais uma análise dos resultados, dessa vez com relação ao uso de contraceptivos hormonais. E aí viram que as mulheres que tomavam pílula, mesmo que não fossem diagnosticadas como deprimidas, apresentavam uma queda ainda maior na concentração esperada de KYN.
Isso não quer dizer que é, necessariamente, esse desequilíbrio que está na raiz dos mecanismos da depressão de todas as pessoas – nem de todas as mulheres. Mas são evidências fortes o suficiente para estudos mais longos e com mais gente. E, acima de tudo, elas dão base biológica para uma reclamação feminina que não costuma encontrar voz nos consultórios médicos.