A pandemia do novo coronavírus atingiu de forma branda os países do sul asiático nos primeiros meses de 2020. Apesar da proximidade geográfica com a China, epicentro inicial da doença, e da alta concentração populacional – estima-se que a região reúna um quarto da população da Terra –, o ritmo de espalhamento em países como Índia, Paquistão e Bangladesh era muito menor que na Europa e Américas, que concentravam os novos casos.
Esse cenário surpreendente foi fruto da ação rápida de governos locais no início da pandemia. Ao fechar suas fronteiras e investir no rastreamento de casos confirmados, o Vietnã conseguiu controlar a disseminação da Covid-19 ainda no fim de abril. O país de 95 milhões de habitantes não registrou mortes pela doença até agora.
A Tailândia, que foi o segundo país a ter um caso de infecção pelo novo coronavírus, ainda em 13 de janeiro, conseguiu se limitar a pouco mais de 3 mil casos confirmados e 58 mortes com a mesma abordagem.
Na Índia, que ganhou manchetes do mundo todo por ter imposto a “maior quarentena” da história, 1,3 bilhão de pessoas ficaram impedidas de circular livremente por pelo menos 50 dias.
Mas a pressão pela recuperação econômica fez o governos locais afrouxarem as medidas. Apesar de escolas teatros, por exemplo, ainda estarem fechados na Índia, serviços como o transporte público, escritórios, shoppings, lojas, restaurantes e templos religiosos voltaram a funcionar a partir da segunda metade do mês maio. O mesmo aconteceu no Paquistão.
O problema é que esse relaxamento fez a curva começar a aumentar – e essa parte do continente, agora, registra uma alta sem precedentes no número de novas infecções. Ao final da primeira semana de junho, nenhum país possuía mais casos ativos da doença: 29,5% dos pacientes de Covid-19 viviam no sul asiático.
Na última semana, a Índia superou o Reino Unido e já tem a quarta maior população de infectados pelo novo coronavírus no mundo, atrás apenas de Estados Unidos, Brasil e Rússia. O país somou mais 11 mil casos nas últimas 24 horas – só Brasil e EUA vivem um ritmo de contaminação mais intenso.
Para conter o avanço do vírus, a cidade indiana de Chennai anunciou nesta segunda-feira (15) que adotará lockdown, restringindo a circulação de seus 15 milhões de habitantes até o final de junho.
Preocupada com o número de casos no Paquistão, onde há 6 mil novos registros de pacientes de Covid-19 por dia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegou a aconselhar o país retomar o quanto antes a política de lockdown. A sugestão era que paquistaneses alternassem duas semanas de isolamento social e duas de serviços não-essenciais funcionando normalmente.
O Paquistão vem enfrentando uma crescente desde o começo de junho. Em média, 23 mil pessoas vêm sendo testadas por dia – e, nos últimos 10 dias, pelo menos um em cada cinco testes deram positivo, o que indica que o número de casos possa estar sendo subestimado. Antes do início dos testes em massa, estatísticas do governo mostram que só 10% dos casos testados davam positivo.
No país, a pressão econômica fez com que o governo relaxasse a quarentena desde o último dia 9 de maio. São mais de 132 mil casos e 2,550 mortes, hospitais estão próximos à sua capacidade máxima.
Há, ainda, outros locais da vizinhança com o sinal de alerta ligado. Na Indonésia, que há uma semana tinha pouco mais de 30 mil casos, já são mais de 37 mil – mais de mil novos por dia.
Bangladesh também já ultrapassou a China no total de infectados, com 84,3 mil. Em entrevista à revista The Economist, John Clemens, epidemiologista que vive em Bangladesh, disse estimar que a capital Dhaka possa ter 750 mil casos ativos – número 12 vezes maior do que o registrado atualmente.
O temor é que intensificação da pandemia na região possa contribuir para o escalamento das perdas – humanas e econômicas. A tentativa de equilibrar os dois pratos da balança tirando o pé das restrições de isolamento, no entanto, não deve surtir o efeito esperado. Pelo menos enquanto o acesso à saúde for precário – e o número de pacientes de Covid-19 não parar de bater novos recordes.