Um homem nunca entra no mesmo rio duas vezes, dizia Heráclito de Éfeso, porque o rio não é o mesmo, nem o homem. Tente falar isso para Jordan, um rapaz de 21 anos, morador de Sydney e campeão mundial da probabilidade: ele conquistou a façanha de ser picado por uma aranha no pênis duas vezes no intervalo de 5 meses (ambas enquanto ia ao banheiro).
Recém-recuperado do trauma de ter sido atacado pela aranha de costas-vermelhas em um banheiro químico, no final de abril de 2016, o rapaz tinha acabado de tomar coragem para voltar a usar esse tipo de lavatório em setembro. Foi só sentar no trono que ele sentiu a segunda picada. Dessa vez foi tão rápido que ele não soube identificar a aranha. Da privada, o jovem foi direto ao hospital tomar soro-antiveneno pela segunda vez, para diversão da equipe médica.
Aranhas não são incomuns na Austrália e as costas-vermelhas, primas da viúva negra, têm um gosto especial por banheiros. Mas elas só dão 2 mil picadas por ano no país inteiro. Ou seja, 1 a cada 12.025 australianos “sortudos” vão acabar com uma picada dessas — que causa dor, inchaço e coceira, aliás. É mais ou menos a mesma chance de um médico se contaminar ao atender um paciente com HIV: 0,008%.
Se a gente considerar que a mesma espécie de aranha picou Jordan essa segunda vez, está na hora de coroá-lo rei da estatística improvável. Porque a probabilidade de ser picado duas vezes em um ano pela costas-vermelhas é só de 1 em cada 144.600.645 (e mais um belo bônus por ambas terem sido no pênis).
É mais fácil um zé-ninguém começar a namorar uma supermodelo (1 em 880 mil nos EUA, e 1 em 189.200 no Reino Unido, onde a população é menor). Seu sonho de virar estrela na calçada da fama também não parece tão distante: 1 em cada 1,5 milhão de pessoas chega à Hollywood, segundo o livro The Book of Odds.
Mas há finais muito mais trágicos que são mais comuns que ser mordido no pipi por uma aranha duas vezes. Mais fácil morrer de prisão de ventre crônica (1 em 2,2 milhões) ou com a queda de um asteroide (1 em 74,8 milhões), também de acordo com a obra do autor Amram Shapiro.
O vazamento de uma usina nuclear próxima tem mais chance de te matar (1 em cada 10 milhões) e é bem mais provável morrer simplesmente por dar o azar de ser canhoto (1 em 4,4 milhões).
Nascer “velhinho” como o Benjamin Button, com uma doença chamada progeria, também é uma aposta mais garantida (1 em 37 milhões).
Nem tudo é morte bizarra e doença rara. Aí vai o momento estatisticamente aspiracional do dia: você tem mais chances de ganhar na Mega-Sena do que Jason tinha de ser picado duas vezes pela aranha. Jogando só 6 números, a chance de ganhar é 1 a cada 50 milhões de apostas. Mas não queira abusar da sorte: a probabilidade de levar a bolada duas vezes é 1 em 25.063.901.000.000.000.000.000 (25 sextilhões).