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Cientistas vão aprimorar monitoramento de barragens para evitar tragédias

Geofísicos brasileiros criam um projeto para avaliar em tempo real a saúde das barragens de mineração.

Por A. J. Oliveira
Atualizado em 18 set 2019, 19h10 - Publicado em 18 set 2019, 19h07

O Brasil ainda tenta processar o trauma em dose dupla dos rompimentos das barragens nas cidades mineiras de Mariana (2015) e Brumadinho (2019). Ambos os casos seguem sem esclarecimentos concretos. Cientistas de uma das mais tradicionais instituições de pesquisa do país trabalham para produzir conhecimento capaz de evitar que tragédias como essas se repitam no país. É o intuito de um projeto criado pelo Observatório Nacional (ON), no Rio.

Uma equipe liderada pelo geofísico Emanuele La Terra está na fase final de implementação do estudo, que usará diferentes técnicas de monitoramento para fazer avaliações constantes e em tempo real dessas estruturas. “Pretendemos contribuir para a segurança das barragens, permitindo que seja feita alguma ação antecipada pelas empresas para diminuir os riscos de rompimento”, explica o pesquisador à SUPER. “Queremos colaborar com o que sabemos para evitar os danos materiais, ambientais e as perdas de vidas humanas que temos visto.”

A ideia do projeto é implantar diversos tipos de sensores e equipamentos para investigar o estado da barragem, podendo identificar eventuais danos ou riscos à sua integridade. Entre os diferenciais da proposta está justamente seu escopo de cobertura: abrange a amplitude inteira da estrutura. Sensores serão colocados ao longo de toda a parte da frente do maciço até as paredes laterais, para coletar dados tridimensionais sobre o complexo.

Além de avaliar parâmetros físicos bidimensionais e tridimensionais, os instrumentos fazem até um acompanhamento 4D da barragem. Essa quarta dimensão não é nenhum universo paralelo — e sim o tempo. “Essas medidas serão tomadas de forma contínua ao longo do tempo, sendo transmitidas em tempo real para uma base de monitoramento, que vai ficar em supercomputadores aqui no Observatório Nacional”, explica La Terra.

E é aqui que o projeto dá um passo além, devolvendo à sociedade o conhecimento gerado na academia. Parte dos dados também vai ser transmitida para o proprietário da barragem, seja ele público ou privado. “Esse é um dos papéis de uma instituição de pesquisa: atender às necessidades da população e da indústria com o desenvolvimento de tecnologia de ponta”, ressalta o geofísico. As técnicas vão atuar em conjunto para monitorar os fluidos.

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Se uma quantidade preocupante de líquidos for detectada vazando para dentro do maciço da barragem, o sistema pode emitir alertas aos operadores e às autoridades a tempo de evitar acidentes devastadores como os que presenciamos nos últimos anos. Diversos fatores podem levar aos rompimentos. Entre eles, os principais são erosão, escorregamento da fundação, cheias ocasionadas por chuva em demasia ou sobrecarga de material.

Além, é claro, de possíveis erros de projeto ou falhas operacionais. Tragédias como as de Mariana e Brumadinho podem ser causadas por um único fator isolado, ou por um conjunto deles. Por melhor que sejam os critérios de segurança, o risco nunca será zero. Mas, muitas vezes, daria para evitar o pior. “É bom lembrar que essas falhas costumam estar associadas à ausência ou mal funcionamento dos dispositivos de monitoramento”, ressalta La Terra.

Segundo relatório de 2017 da Agência Nacional de Águas (ANA), que coordena a Política Nacional de Segurança de Barragens e articula fiscalização de órgãos estaduais e federais, existem cerca de 24 mil barragens no Brasil. Destas, só 720 foram fiscalizadas. Para que isso ocorra, a barragem deve ser grande, com profundidade do ponto mais baixo ao mais alto de 15 metros ou mais, e volume igual ou maior que 3 milhões de metros cúbicos.

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Existem diversos tipos de barragens, feitas com blocos de rocha, concreto e até com madeira. Mas a mais comum de todas, e a que é utilizada para conter os rejeitos de mineração, são as de terra. São essas que o projeto de La Terra vai estudar, e também são as mais “perigosas”, por sua natureza mais instável e dinâmica. A barragem de Mariana, da Samarco, despejou 62 milhões de m³ de lama com rejeitos de minérios no Rio Doce, enquanto a de Brumadinho, da Vale, lançou 12 milhões de m³ no Córrego do Feijão.

Foram tragédias ambientais e sociais incalculáveis, que poderiam ter sido evitadas com um sistema como o que está sendo desenvolvido pelo ON. “Ainda não tenho as informações técnicas sobre o que causou o rompimento dessas duas barragens, mas se o motivo foi a entrada anômala de fluido dentro do maciço, nós teríamos detectado”, afirma La Terra. “E, se fosse algo gradual, com certeza teria dado tempo de avisar.”

Os testes iniciais das tecnologias serão realizados a princípio em uma barragem de terra, mas que contém um reservatório de água, apenas. Dos resultados obtidos nessa etapa, os pesquisadores pretendem partir para as barragens de rejeito de minérios. E, com isso, há chances reais de que a ciência impeça não só os terríveis impactos desses acidentes ao meio ambiente — como também salve vidas.

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