Como o McDonald`s inventou o Big Mac
A receita nasceu nos anos 1960, feita por um franqueado da empresa. E a criadora do nome do lanche levou 17 anos para ser reconhecida.
Em 1967, o McDonald`s já tinha mais de 500 lojas espalhadas pelos EUA. Foi também o ano em que as primeiras unidades fora do país foram abertas no Canadá.
Mas, ao contrário do rival Burger King, que havia lançado o hambúrguer Whopper dez anos antes, a empresa ainda não tinha um sanduíche-símbolo, que a distinguisse de outras lanchonetes.
A resposta para esse problema, claro, foi o Big Mac, que se tornou a marca do McDonald`s (e, bem, de todo o universo fast food). E ele nasceu de forma espontânea – graças a um franqueado que queria aumentar as vendas dos seus restaurantes.
Michael James Delligatti nasceu em 1916 na pequena cidade de Uniontown, no estado da Pensilvânia, região nordeste dos EUA. Jim (este era seu apelido) lutou na Segunda Guerra Mundial e, quando voltou, abriu um drive-thru na Califórnia.
Em 1955, ele conheceu o empresário Ray Kroc durante um evento. Naquele ano, Kroc havia comprado o McDonald`s dos irmãos Richard e Maurice McDonald, os criadores da marca. Deligatti gostou do que ouviu sobre o negócio e, dois anos depois, abriu uma franquia do restaurante em Uniontown.
A coisa prosperou e, nos anos seguintes, Jim abriu outras unidades (ele chegaria ao fim da vida como dono de 48 McDonald`s). E, para aumentar as vendas das suas lanchonetes, ele queria incluir um novo hambúrguer para o cardápio.
Jim, porém, enfrentou resistência do alto escalão do McDonald`s. Os executivos não queriam bagunçar o seu bem-sucedido cardápio enxuto, composto por cheeseburguer, fritas, refris e milk-shakes.
Além disso, a matriz estava receosa em relação ao preço do lanche proposto por Deligatti: 45 centavos de dólar (US$ 4,20, em valores atuais), o dobro do cheeseburguer. Foi então que chegaram a um meio-termo: Jim poderia desenvolver um novo sanduíche, desde que usasse os ingredientes que já eram enviados às franquias normalmente.
O empresário, então, gastou semanas para desenvolver a receita do molho especial, que ele considerava a peça-chave para o sucesso (e distinção) do sanduíche. Ele também quis um terceiro pão no meio, criando uma camada extra para sustentar o lanche (uma ideia que ele absorveu do empresário Bob Wian, que já fazia hambúrgueres com essa estrutura em seus restaurantes na Califórnia).
Jim não honrou o acordo com o McDonald`s e foi atrás de um fornecedor local para conseguir pães maiores para o seu sanduíche. Foi a primeira vez que um pão coberto por gergelim foi usado na rede de fast food (algo que, mais tarde, seria incorporado em outras opções do cardápio).
O resultado final passou a ser vendido em Uniontown. Ainda não havia um nome definitivo: o lanche chegou a ser batizado de “The Aristocrat” (“O Aristocrata”) e “Blue Ribbon Burguer” (“o hambúrguer da fita azul”), que não pegaram. O preço? US$ 0,45 (ou US$ 0,29 com um cupom de desconto).
Apesar do valor e da falta de um nome memorável, o sanduba foi um sucesso, e rapidamente aumentou o faturamento da loja em 12%. Jim espalhou a receita para suas outras unidades e, em 1968, o McDonald`s resolveu adotar o lanche em seu menu.
O nome “Big Mac” é criação de Esther Glickstein Rose, uma secretária de 21 anos que trabalhava no departamento de propaganda na sede do McDonald`s, no estado de Illinois. Demorou 17 anos, porém, para que a empresa a reconhecesse como a autora da criação.
Nasce um hit
Hoje, mais de 500 milhões de Big Macs são vendidos por ano nos EUA (em todo mundo, estima-se que esse número chegue aos 900 milhões). O lanche está disponível em todos os 118 países onde o McDonald`s atua – inclusive na Índia, onde ele é chamado de Mahajara Mac e é feito com carne de frango ou carneiro (lembre-se: não se come carne bovina por lá).
Tamanha é a abrangência que a revista britânica The Economist resolveu usar o sanduíche para medir a valorização (ou a desvalorização) das moedas mundo afora. Em 1986, nasceu o Big Mac Index.
A sacada do índice é genial. Pense: se o Big Mac é um produto idêntico seja no Brasil, seja na Austrália, ele deveria custar o mesmo preço em qualquer lugar, certo? A The Economist coleta o valor em cada país e converte tudo em dólar. E aí, se um Big Mac está mais barato em determinado lugar, por exemplo, quer dizer que aquela moeda está desvalorizada em relação ao dinheiro americano.
Mas, afinal, por que será que o Big Mac deu tão certo, a ponto de ser usado até como instrumento de medição monetário?
Existem algumas razões. A primeira, claro, é a sua receita; em particular, a do seu molho. “Todos os cinco sabores fundamentais reconhecidos pelo nosso paladar – doce, salgado, azedo, amargo, umami – estão ali”, escreve o jornalista Rafael Tonon no livro As revoluções da comida.
Em 2012, viralizou no YouTube um vídeo de Dan Condreaut, na época chef executivo e vice-presidente de inovação culinária do McDonald`s, ensinando a receita do molho, que leva maionese, mostarda, vinagre de vinho branco, alho e cebola em pó, relish de pepino e páprica. Você pode assistir ao preparo aqui.
A outra explicação é a massiva campanha de marketing empregada pelo McDonald`s desde os anos 1970. É de 1974 a primeira propaganda que mostrou o famoso jingle “dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola e picles num pão com gergelim”, que colocou o lanche e seus sete ingredientes (sem contar os aditivos químicos, diga-se) no imaginário popular:
Vale dizer, porém, que nem Jim Deligatti nem Esther Rose lucraram milhões com royalties pelas suas invenções. Essa era a política do McDonald`s para todas criações de seus funcionários: as pessoas entravam com a ideia, e a corporação entrava com a força para globalizar o produto – ficando, assim, com toda a grana.
“Tudo o que eu ganhei foi uma placa”, disse Jim certa vez em um jornal. Ele morreu em 2016, aos 98 anos – e, até o fim da vida, tinha o hábito de comer um Big Mac por semana.
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