Depois de um ano de debates, o Pentágono decidiu suspender a determinação que proibia a entrada de pessoas transexuais nas Forças Armadas dos Estados Unidos. Essa parcela da população não será mais considerada “fisicamente inapta”, e sim “capacitada” para o serviço militar.
Além de revogar a proibição, o Exército dará suporte médico para seus oficiais trans, o que poderá incluir um processo de transição de gênero.
Inclusão de talentos
Apesar de a medida garantir igualdade de gênero aos soldados, os setores mais conservadores do Exército Americano ficaram reticentes com a decisão, segundo a emissora americana CNN. O secretário de Defesa do país, Ash Carter, rebate as críticas afirmando que os militares precisam aproveitar todo o talento e potencial possível dos voluntários.”Agora as pessoas podem servir sem ter que mentir sobre quem são e terão o cuidado médico de que necessitam”, afirmou Carter durante o anúncio.
O Departamento de Defesa estima que, dentre 1,3 milhão de servidores militares em atividade no país, de 2 a 7 mil deles sejam transgênero.
Direitos iguais
Pessoas trans terão direito ao mesmo tipo de cobertura médica que qualquer outro membro do serviço militar. Aos que precisarem, as Forças Armadas também vão bancar terapia hormonal e cirurgia de redesignação de sexo – se os pacientes, em conjunto com os médicos, acharem que esses procedimentos são fisicamente necessários.
Muitas das críticas à nova medida recaem sobre o aumento de custos que ela acarreta. O Departamento de Defesa divulgou que as despesas médicas ao longo da vida útil de um funcionário com disforia de gênero (quando a pessoa não se sente confortável no gênero em que nasceu) ficam entre US$ 40 mil e a US$ 50 mil. Uma despesa modesta diante do orçamento militar americano.
Para serem aceitos no serviço militar, os potenciais recrutas trans precisam apresentar um atestado de que mantêm a mesma identidade de gênero por, pelo menos, 18 meses. As Forças Armadas exigem essa comprovação para assegurar que a pessoa não esteja sofrendo complicações físicas da cirurgia ou de terapia hormonal associada à mudança de gênero.
Como muitas pessoas trans optam por não fazer a cirurgia de redesignação sexual, a genitália do soldado ou recruta não precisa estar associada ao gênero que ele ou ela se definem atualmente. Ou seja: para o Exército, o gênero de uma pessoa independerá dos órgãos genitais dela.
Avanços
A aceitação de transgêneros nas Forças Armadas dos EUA faz parte de uma série de mudanças para garantir direitos civis igualitários à população. O primeiro passo foi a política de “Don’t ask, don’t tell” (Não pergunte, não conte), que foi estabelecida em 1993. Pessoas LGBT até eram aceitas no exército, mas não podiam revelar sua verdadeira orientação sexual. Ela foi extinta em 2011.
No ano passado, o serviço de assistência médica do Exército foi alterado para contemplar casais do mesmo sexo que sejam legalmente casados, e o Departamento de Defesa mudou as regras do seu programa de oportunidades para “proteger membros do serviço contra discriminação por orientação sexual”.
A partir de outubro, quem já faz parte do Exército americano poderá começar o processo de mudança de gênero, caso deseje. Em julho de 2017, as Forças Armadas do país deverão estar preparadas para alistar pessoas trans.