Ter frequentado uma boa universidade não é garantia de sucesso na carreira. Aliás, poucas certezas são absolutas quando se fala de futuro profissional. Mas um estudo recente publicado pela Universidade de Oxford mostra que a formação acadêmica tem um grande impacto no desenvolvimento de habilidades emocionais. Nem só de boas notas se faz um bom aluno: além do conhecimento técnico, quem frequenta a universidade tende a ser mais autoconsciente, agradável e extrovertido se comparado a quem não tem diploma – qualidades importantes tanto no mercado de trabalho, quanto na formação de uma sociedade mais humana.
Diferente das escolas, as universidades incentivam os alunos a circularem por ambientes diversos. A exposição a estágios, centros de mobilização acadêmica, atividades extracurriculares esportivas, artísticas e políticas faz com que os estudantes estejam mais abertos a dialogar com realidades e pessoas de diferentes opiniões e origens. A pesquisa revelou que alunos de classes menos privilegiadas são as que mais se beneficiam e desenvolvem novas habilidades. Além disso, a entrada na universidade coincide com a saída da adolescência, um período propício para o amadurecimento emocional.
O estudo foi realizado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, em parceria com a Universidade Monash, na Austrália. Para mapear o impacto da formação universitária, os pesquisadores reuniram informações de educação, trabalho e condição social de 575 adolescentes australianos ao longo de oito anos. A partir disso, elencaram cinco traços de personalidade que pudessem sofrer alterações ao ingressar em um curso superior: grau de extroversão, consciência, conveniência (muito relacionada a empatia e altruísmo) e abertura para novas experiências. Essas características também são amplamente conhecidas entre os psicólogos por diferenciarem com precisão uma pessoa da outra.
Os adolescentes que saem da escola direto para o mercado de trabalho costumam ser mais realistas e conscientes do que seus pares da mesma idade. Mas esses mesmos jovens acabam se tornando pessoas mais fechadas e introvertidas. A universidade pode ser uma forma de reverter essa tendência. E o efeito é cumulativo: os pesquisadores perceberam que cada ano que um jovem passa na faculdade representa um aumento significativo em suas habilidades de cooperação e sociabilidade. Os resultados do estudo anglo australiano sugerem que o desenvolvimento da personalidade dos alunos está mais atrelado à vida acadêmica do que o que eles de fato aprendem quando estão em sala de aula.
Ok, é raro encontrar alguém defenda que estudar faz mal. As oposições ao tempo dedicado à formação acadêmica costumam ser motivadas por questões financeiras. Mas este é o primeiro estudo que comprova na prática os efeitos da educação superior na construção do caráter dos estudantes.
“Nós vemos muito claramente que a personalidade dos alunos muda quando eles vão para a faculdade. As universidades oferecem um novo e intensivo ambiente de aprendizado social para os adolescentes. É uma boa notícia que não ensinem apenas habilidades específicas de cada curso, mas que também tenham sucesso ao ensinar qualidades valorizadas pelos empregadores e pela sociedade”, disse o líder da pesquisa, Sonja Kassenboehmer, na divulgação do estudo.