Como a ilha de Tuvalu ganha dinheiro vendendo seu domínio de internet
O ".tv" é escolhido para enfeitar o nome de sites de grande audiência, como a Twitch, e esse comércio corresponde a quase 10% do PIB da minúscula nação.
Você já entrou em um site de streaming de vídeos, filmes ou séries que terminava com “.tv”? É o caso, por exemplo, de uma das maiores plataformas de livestream do mundo, a Twitch. O serviço de streaming gratuito Pluto TV também tem um desses nomes de site personalizados.
Mas não é simples ter esse charme em um site. Para personalizar o nome de um serviço desses na internet, você precisa mandar uma boa grana para o minúsculo país de Tuvalu, um conjunto de nove ilhas e atóis na Oceania. A nação tem possibilidades econômicas bastante limitadas por causa da localização isolada e do território pequeno, então uma das fontes de renda para seus 10 mil habitantes é vender domínios de sites na internet.
A nação insular de Tuvalu é a detentora do domínio “.tv”, da mesma forma que o Brasil tem “.br”, a Argentina tem “.ar” e a China tem “.cn”. Esse país da Oceania não é o único que aproveita seus domínios virtuais para lucrar um pouco: a ilha Anguila, parte dos territórios ultramarinos britânicos no Caribe, está se dando bem nos últimos anos vendendo sites com final “.ai” para empresas de inteligência artificial (cuja sigla em inglês é AI, de artificial intelligence).
A venda de domínio de sites é uma das atividades econômicas mais importantes de Tuvalu, país ameaçado pelo aumento do nível do mar causado pelas mudanças climáticas. A Super explica como isso funciona.
Quanto dinheiro rende?
A internet é um conjunto de vários protocolos de comunicação, códigos que trabalham juntos para sustentar a rede mundial dos computadores. Um desses é o DNS, sigla em inglês para “sistema de nomes de domínio”. Ele traduz os domínios de sites que nós, usuários da internet, usamos, como super.abril.com.br, e os transforma em endereços de protocolo de internet (IP), para que os navegadores possam encontrar o que procuramos.
Todo site precisa de um domínio de nível superior, a coisa que vai facilitar a pesquisa do site para o navegador. É o caso do “.com” de muitos sites, que significa que a página que você está visitando tem propósitos comerciais. Também é o caso dos códigos de país, como o “.br” do Brasil.
Quem cria e distribui esses domínios entre as nações é a Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números, mais conhecida por sua sigla em inglês ICANN. Essa entidade sem fins lucrativos subordinada ao governo dos Estados Unidos geralmente segue o código ISO 3166, da Organização Internacional para Padronização, para codificar o nome dos países. Assim, Tuvalu acabou se dando bem.
O país de 26 km² começou a lucrar com o domínio de sites em 2000, quando fez uma parceria com a start-up canadense DotTV para comercializar o nome. Os milhões desse acordo levaram energia elétrica a pontos remotos do país e financiaram uma escola na ilha principal. O dinheiro também serviu para custear a taxa anual necessária para fazer parte da Organização das Nações Unidas (ONU).
Vender os direitos do domínio “.tv” também foi uma forma de abrir mão de outras práticas comerciais impopulares. Tuvalu alugava seu código telefônico, 688, em troca de uma porcentagem nos lucros de empresas de sexo telefônico. A população, majoritariamente cristã, ficou bem mais feliz com fazer negócios com sites de streaming na internet.
Atualmente, a administração do domínio “.tv” é responsabilidade da GoDaddy, empresa hospedeira e registradora de sites na internet. De acordo com dados de 2019, todo ano o país recebe cerca de US$ 5 milhões pelo uso do código de site. Para uma nação que tem um PIB de cerca de US$ 60 milhões, a venda do domínio representa quase 10% de toda a renda doméstica.
Hoje em dia, esse dinheiro dos sites “.tv” é usado pelo governo de Tuvalu para planejar ações contra os efeitos da crise climática, que podem deixar as ilhas inabitáveis em algumas décadas. Tuvalu até anunciou a proposta de virar “a primeira nação digital”, uma cópia virtual da nação ameaçada pelo aumento do nível do mar. Dá para entender o plano no site de Tuvalu – que termina com “.tv”, é claro.
